quarta-feira, janeiro 07, 2009

Sobre o Futuro da Igreja Católica


Por: Anselmo Borges
(Padre, Teólogo e Filósofo, docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra)


Foi notícia nos média: a diocese de Lisboa perdeu nos últimos sete anos à volta de cem mil fiéis praticantes.
O próprio cardeal-patriarca reconheceu que há muita negatividade nas celebrações e na Igreja: inadaptação aos novos tempos; deficiências na formação dos padres; má proclamação da Palavra de Deus; má qualidade e falta de mensagem religiosa dos cânticos; homilias inadequadas e deficientes.
Os jovens queixam-se de que as celebrações são uma seca e, frequentemente, têm razão. Onde estão a possibilidade de participação e de diálogo e homilias iluminantes da vida e dos seus problemas e a festa ?
Por outro lado, há a invasão do materialismo e do consumismo hedonista. Ora, numa sociedade que procura fundamentalmente o bem-estar material, Deus tem cada vez menos lugar. Mesmo que haja - e há - procura de espiritualidade, já não é necessariamente através da mediação da Igreja. Aliás, há uma imensa crise de fé, que atinge o próprio clero, e sinais de que o cristianismo se pode tornar minoritário na Europa.
Mas é preciso também prevenir para equívocos e falsas idealizações. Assim, como mostrou J.Delumeau, não se pense, por exemplo, que a Idade Média foi sempre modelo de vida cristã. Apesar de tudo, talvez a Igreja hoje seja mais autêntica do que em todas as outras épocas, com excepção dos primeiros tempos do cristianismo. Não se pode esquecer que o mais importante é a prática cristã na vida: praticar a justiça, amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo. A outra prática - a frequência da missa - deveria vir na sequência da primeira.
De qualquer forma, embora, segundo estudo recente, mais de dois terços dos portugueses apresentem o ser católico como factor de identidade nacional, há uma crescente desafeição em relação à Igreja institucional. De facto, ela não acompanha os tempos e é vista como retrógrada: veja-se, por exemplo, a moral sexual e a relação entre fé e ciência.
Ainda recentemente dizia Eduardo Lourenço: " Lamento que o catolicismo se refugie em coisas arcaizantes que têm efeitos éticos e sociais deploráveis. Não sei se está condenado a morrer, mas está condenado a transformar-se."
Quando se pensa nas transformações do mundo moderno, percebe-se quanto será necessário, sem perder o núcleo da sua mensagem, a Igreja mudar. Dificilmente serão aceitáveis estruturas piramidais, sem participação activa, democrática. As mulheres andam magoadas com a Igreja e vão, legitimamente, exigir tratamento de igualdade. A Igreja não pode pregar os direitos humanos para fora, não os praticando dentro dela. Um dogmatismo rígido e inflexível, sem uma sadia opinião pública, não lhe é de modo nenhum favorável.
Depois, há vícios que é preciso combater, como proclama, do alto dos seus 81 anos, o cardeal Carlo Martini, considerado papabilis durante anos. Para ele, " o vício clerical por excelência" é a inveja. Há muitas pessoas, dentro da Igreja "consumidas" pela inveja, perguntando: "Que mal cometi eu para nomearem fulano como bispo e não a mim?"
Para Martini, há outros pecados capitais fortemente presentes na Igreja: a vaidade e a calúnia. "Que grande é a vaidade na Igreja! Vê-se nos hábitos. Antes, os cardeais exibiam capas de seis metros de cauda de seda. A Igreja reveste-se continuamente de ornamentos inúteis. Tem essa tendência para a ostentação, o alarde."
E "o terrível carreirismo" clerical, especialmente na Cúria Romana, "onde todos querem ser mais"? Por isso, "certas coisas não se dizem, já que se sabe que bloqueiam a carreira". Isso é "péssimo para a Igreja". A verdade brilha pela ausência, pois "procura-se dizer o que agrada ao superior e age-se como cada um imagina que o superior gostaria, prestando deste modo um fraco serviço ao Papa".
Autênticas comunidades cristãs têm de assentar em três pilares: fé viva e capaz de dar razões, prática do amor e da justiça, celebrações belas a fortalecer a vida e a fé e a dar horizonte de sentido último à existência.
A Igreja só pode ter futuro, cumprindo o núcleo da sua missão: manter a pergunta acesa e activa a compaixão.

Fonte: Jornal 'Raio de Luz'
Adaptação: Mano Belmonte
manoamano@sympatico.ca


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CURIOSIDADES


AVENCA = Tem acção protectora sobre peles sensíveis e age contra a queda de cabelos.
Combate males respiratórios como bronquite e tosse com catarro.

BOLDO CHILENO = Poderoso digestivo e hepático, com prioridades tónicas e estimulantes, activa a secreção salivar, biliar e gástrica em casos de hipoacidez e dispepsias. Muito utilizado em hepatite crónica e aguda.
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A BORBOLETA


Um homem viúvo, vivia na mesma casa com suas duas filhas. Elas eram muito curiosas e inteligentes. faziam muitas perguntas. Algumas ele sabia responder, outras não. Como pretendia dar a elas a melhor educação, mandou-as passar férias com um Sábio que vivia sózinho no alto de uma colina. Assim elas podiam aprender muito mais. De certeza teriam sempre resposta para as suas perguntas.
O Sábio respondia a todas as perguntas sem hesitar. Impacientes com o Sábio, as meninas resolveram inventar uma pergunta para ver se ele saberia ou não responder.
Então uma delas apareceu com uma linda borboleta que usaria para tentar enganar o Sábio.
-O que vais fazer com essa borboleta ? - perguntou a irmã.
-Vou escondê-la nas minhas mãos e perguntar ao Sábio se ela está viva ou morta. Se ele disser que está morta, abro as minhas mãos e deixo-a voar. Se ele disser que está viva, vou apertá-la e esmagá-la. E assim qualquer resposta que o Sábio nos der, será sempre errada !
As duas irmãs foram então ao encontro do Sábio, que estava a meditar.
-Tenho aqui uma borboleta. Diga-me, Sábio, ela está viva ou morta ? Calmamente o Sábio sorriu e respondeu:
-Depende de ti. Ela está nas tuas mãos.

Assim é a nossa vida, o nosso presente e o nosso futuro. Não devemos culpar ninguém quando algo não dá certo. Somos nós os responsáveis por aquilo que consquistamos (ou não conquistamos). A nossa vida está nas nossas mãos, como a borboleta. Cabe-nos escolher o que fazer com ela.

Adelino Vieira
Terceira/Açores