quinta-feira, janeiro 08, 2009

A LÍNGUA MIRANDESA


O Mirandês é uma língua românica falada no NE de Portugal, em mais de 30 localidades dos concelhos de Miranda do Douro e de Vimioso. Faz parte do conjunto de variedades linguísticas asturo-leonesas, e as suas características próprias decorrem de o território onde se fala integrar a nacionalidade portuguesa desde a sua origem. A formação da língua mirandesa foi um processo longo, em que ressalta o contacto com a língua leonesa falada nas regiões vizinhas de Aliste e Sayago, onde o castelhano só recentemente se impôs. Ao longo do tempo a língua mirandesa foi-se recompondo sempre, continuando viva nos nossos dias.

O mirandês foi reconhecido como uma língua oficial de Portugal pela Lei n}7/99, de 29 de Janeiro de 1999. A sua escrita segue a Convenção Ortográfica da Língua Mirandesa, publicada em 1999 e a que em 2000 se seguiu uma Primeira Adenda. Estima-se que o número dos seus falantes poderá variar entre 7 e 10 mil.

O mirandês manteve-se como língua exclusivamente oral até 1882, altura em que José Leite de Vasconcelos a dá a conhecer à comunidade científica, escreve os primeiros textos e publica os estudos fundamentais em "Estudos de Philologia Mirandesa" (1900-1901). Desde então, embora de modo irregular, vão surgindo escritores e estudiosos da língua, sendo de destacar António Maria Mourinho que manteve viva a atenção em relação à cultura e à língua mirandesas desde os anos quarenta do século XX.

Após a proposta de lei apresentada pelo deputado mirandês Júlio Meirinhos e a sua conversão na lei n}7/99, de 29 de Janeiro de 1999, o mirandês suscitou uma onda de interesse sem precedentes, tendo-se vindo a realizar um grande esforço de recuperação da memória linguística e de transmissão dos saberes colectivos. Na sua divulgação têm tido um papel fundamental os músicos mirandeses e outros, bem como uma geração de escritores mirandeses que tem vindo a surgir, publicando quer obras originais quer traduções e, em particular, na internet.

Como língua de Portugal, o mirandês é um valor seguro da cultura e da identidade portuguesas. A divulgação da cultura mirandesa, de modo adequado, e o carinho em relação à língua mirandesa são essenciais para que essa língua se mantenha viva, ultrapassando as dificuldades que tem vindo a enfrentar... uma parte importante da riqueza cultural de Portugal que está em causa, integrante do património imaterial da humanidade.

Pesquisa e adaptação: Mano Belmonte
manoamano@sympatico.ca

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Investigador português demonstra as origens fadistas do tango


O estudioso de fado Daniel Gouveia apresentou em Lisboa uma palestra na qual demonstrou as origens fadistas do tango e estableceu outras analogias com canções sul-americanas e o flamenco.

No âmbito de um jantar promovido pela Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF), no Retaurante do Fado, em Lisboa, Daniel Gouveia apresentou uma comunicação na qual demonstrou a paternidade fadista do tango argentino.

As origens fadistas do tango, explicou Daniel Gouveia à Agência Lusa, remontam ao século XIX, e estão ligadas à Colónia de Sacramento (Sul do Brasil).

Establecido um forte na então colónia do Sacramento (actual Uruguai), os portugueses iam de barco até Buenos Aires e faziam serenatas às crioulas, disse Daniel Gouvaia.

As origens do tango estarão, segundo o estudioso que citou uma investigação de João Moura, publicada em 2001, nestas canções que os portugueses cantavam quando de noite visitavam a capital argentina.

Mas, Daniel Gouveia demonstrou também as influências do fado no surgimento das canções populares portuárias chilenas, nomeadamente o valsecito criollo e o bolero.

Daniel Gouveia acompanha neste sentido as investigações de Miguel Ângel Vera Sepúlveda, investigador que se tem debruçado sobre as influências do fado na música popular chilena.

Gouveia apresentou o registo sonoro de El jibarito cantado por Tona la Negra que, é exactamente o fado tradicional Zé Grande composto por Raul Pereira na primeira metade do século passado.

Quem influenciou quem, ou será uma mera coincidência, tanto mais que a Tona nunca veio à Europa, é um mistério que se colocou à audiência.

O investigador apresentou ainda registos fonográficos onde se revelam existirem similitudes entre o flamenco e o fado, quer pela temática quer pela interpretação.

Além da palestra do investigador, houve ainda a apresentação de um conjunto de jovens fadistas.
São eles Marco André, que venceu a Grande Noite do fado em Juvenis em 1997 , Catarina Rosa e Sérgio Daniel, vencedores juvenis da Grande Noite do Fado em 2003 e Tiago Simões.
À viola-baixo esteve André Ramos, e na guitarra portuguesa Ângelo Freire.

A APAF comemorou dez anos de existência e este jantar temático insere-se nas suas celebrações, prevendo ainda o lançamento de um livro sobre Maria Severa e a realização de um ciclo dedicado aos poetas comtemporâneos de fado.

Fonte: Agência LUSA
Adaptação: Mano Belmonte
manoamano@sympatico.ca

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