sexta-feira, maio 22, 2009

Em memória de ANA NASCIMENTO

É possível que nenhum sofrimento na terra seja comparável ao daquele coração que se debruça sobre outro coração enregelado e querido que a urna transporta para o grande silêncio.
Ver a névoa da morte estampar-se, inevitável, na fisionomia daqueles que mais amamos, e cerrar-lhes os olhos num adeus indescrítível, é como despedaçar a própria alma e prosseguir vivendo.

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Aos pais da NOSSA TÃO QUERIDA ANA (Odete e Carlos Nascimento), as nossas mais sentidas condolências e pezar por tão dolorosa perda.

Mano Belmonte
Maria Regina

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NUVEM NEGRA EM MAIO
Fernanda Leitão

Em memória da Ana Nascimento


Depois de um inverno demasiado longo e pesado, o mês de Maio surgiu como uma benção. O sol radioso, a temperatura cálida, as árvores que rebentam em verdes tenros, as flores que despontam em sonfonias de cor, trazem a vibração do milagre da vida. É tudo tão intenso que nos deixamos embalar por certezas.
Mas de repente, neste Maio, o dia 19 surgiu negro, apesar do sol e do céu azul. Durante a noite, o aviso de tempestade chegou-me através de um lacónico e-mail da Odete Nascimento, a generosa e empenhada Directora da Casa de São Cristóvão: "A Ana está muito mal no intensive care, por favor rezem". Rezei o terço na angústia incontornável de quem está muito castigado pela vida, mas também na inabalável esperança de quem tem fé.
A noite foi de insuportável insónia. A manhã chegou com o trovão medonho da notícia da morte da Ana, logo transformado em nuvem negra que por completo toldou este Maio de promessa.
Como eu me sentia feliz e alegre quando encontrava a Ana!
Ela era uma jovem solar, luminosa, de cujo sorriso e olhar escorria a alegria, a bondade, a doçura. Quantas vezes a observei abraçando os portugueses idosos, cheia de carinho, naquelas pequenas festas da Casa de São Cristóvão. Da Ana esperávamos uma vida longa, fecunda, que traria alegria a quantos a rodeassem.
Diz-se que Deus põe mais à prova os que mais ama. A ser assim, a Odete e o Carlos Nascimento, toda aquela família, são muito amados por Deus porque eu não sei de maior dor do que perder um filho. Uma dor irremediável para a qual não há palavras.
Sei, como todos os crentes sabem, que a morte é o princípio da vida eterna. Tenho a certeza que a Ana está em Deus, solta e feliz como uma flor de primavera infinita. Mas sou humana, sou frágil, e saber que a Ana vai a sepultar nesta sexta-feira, deixa-me de coração partido.

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Crónica de Coimbra


Por Cruz dos Santos


PALAVRAS DE SÚPLICA


Palavras que eu sinto, esboços de nudez, de dor e de paixão...São palavras perdidas no perdido fascínio da aventura, palavras que gritam a surda ânsia de saciar uma sede que angustiosamente queima por dentro...Sede de palavra, de um pouco de nada, de um simples olá que se espera mesmo pelos fios metálicos do telefone. Que loucura, sentir, todos os dias, essa energia enorme de palavras a querem libertar-se do meu interior.

Ah que vontade de explodir por dentro da fala distante e tudo o que se tem para dizer...Fome, sede...Desmanda de amor pelo poder da fala por entre a súplica de ouvir.
Palavra de desejo tantas vezes morta no seu projecto de nascer. Lá fora a vida continua, a vida não muda, as pessoas fogem delas próprias para mergulharem na vazio de outros corpos, ou então fogem dos corpos que não estão vazios para não se encontrarem a si mesmas. Tantas são as palavras de vazio com que vestimos o espaço de entre nós sem que a palavra, que se espera, mitigue a sede que nos invade, São as palavras vazias do tempo que faz, em vez de palavras do tempo que é...são as palavras de ilusão soltadas no espaço de entre nós, são palavras de vazio a camuflar o desabafo que se espera em forma de um sopro de súplica receosa.

Cá dentro, dentro de um mundo que é só nosso, a música mistura-se com as nossas vozes, com as súplicas e desejos e sonhos! Cá dentro...há um tempo fora de todos os tempos, sem relógios nem minutos, porque cada minuto é um dia e cada dia um mês e é por isso que sentimos que estamos aqui há tanto tempo, como se o tempo fosse outro, e é! Falar! Ah que ditoso bem, que prémio, que riqueza! Falar... é esse saboroso jogo de amor que, na sociabilidade dos iguais na diferença, permuta o eu no tu e o tu no eu sob o lugar descentrado na linguagem. Falar é aceitar a nudez da palavra de suplica e despir também o nosso ser, oferecendo a palavra de compreensão em troca de um poder que, embora fascine, mata a verdadeira dimensão do encontro.

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'Senhor Cinema' morre aos 74 anos...

Quando a vida de alguém se confunde com a própria História da Sétima Arte em Portugal, é legítimo dizer-se que, com seu desaparecimento, o cinema morre também um bocadinho. Foi assim ontem quando, aos 74 anos, se fecharam os olhos de João Bénard da Costa...

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Adapt: Mano Belmonte
manoamano@sympatico.ca