OS "JESUÍTAS" DA MOURA
(Por Francisco Carvalho Correia)
(Por Francisco Carvalho Correia)
1. Antes de tudo, é necessário se distingam duas fases, na laboração desta empresa: antes de 1892, e após desta data até hoje.
Antes de 1892, havia já, nesta casa Mais que centenária, uma doçaria. Dirigi-la-á um senhor, de nome Joaquim Ferreira de Moura, que, de seu nome, apelidaria a empresa.
Era casado com uma senhora , chamada Maria Luísa - ou Luísa doceira, como de toda a gente era conhecida -, que passava os seus dias vendendo o "doce de gaveta" pela ocasião das festas e pelos largos das feiras. Só o fabrico se fará no interior da habitação, que a venda e comercialização do produto, essa apenas se processava nos espaços públicos do exterior.
2. A certa altura, o casal tivera um filho. Chamar-se-is Guilherme Ferreira de Moura.
Com 14 anos, apenas, foi praticar num Hotel do Porto, sito na Praça D. João IV, e que fornecia de bolos a Casa Real. Foi neste intervalo que chegara a Santo Tirso, um empregado espanhol, cujo nome e identidade se ignoram. Este vai dar início a uma nova etapa nesta empresa, e que a enriquecerá com a introdução dos chamados "bolos folhados".
É agora, verdadeiramente, que tem começo a chamada Pastelaria Moura, que uma lápide consagrará com a cronologia de 28 de Junho de 1892.
3. Toda a gente ficará a conhecer e a saborear, desde então os famosos "jesuítas". Esta especialidade nada terá a ver - como houve quem o dissesse ou pensasse - com a chegada dos filhos de Santo Inácio às Caldas da Saúde. Sei que o primeiro reitor do Colégio, vindo de La Guardia contactou com o então Hotel das Caldas, a 4 de Fevereiro de 1932. Que o primeiro grupo de alunos, vindos daquela localidade espanhola, de lá sairiam no dia 5. E que, no dia 7, Domingo, abandonaria definitivamente La Guardia o reitor, com alguns professores. Assim, o primeiro grupo de alunos chegou às Caldinhas no dia 6 de Fevereiro do dito ano de 1932. Em Março, ao dia 7, já todo o corpo docente e discente de La Guardia se encontrava a funcionar em Areias. Antes da chegada dos jesuítas às Caldas da Saúde, já, há muito, que se comiam jesuítas em Santo Tirso...
Aliás - e para uma informação complementar - séculos atrás, desde 1572 até 1759 - viveram já os membros da Companhia de Jesus, no perímetro actual do concelho de Santo Tirso, na igreja de S. Pedro de Roriz. De qualquer forma, nem os jesuítas rodericenses, nem os arenenses das Caldas deram aos famosos pastéis da Moura.
Todavia, haverá sempre uma ligação, que não aquela que se supunha. Recebi uma notícia, cuja veracidade não encontro sob chancela da confirmação: que o dito espanhol inominado, viera do norte de Espanha, de Bilbao (?) onde teria exercido as funções de cozinheiro dos jesuítas. E que aí teria assimilado o segredo da arte dos folhados. E que fora o mencionado pasteleiro que o terá introduzido na nossa cidade. Daí que os bolos tenham recebido dos padres que o saboreavam o nome por que hoje, efectivamente, se conhecem: os jesuítas.
A propósito do nome e da presença da Companhia de Jesus no nosso concelho, uma anedota que, por aqui, se divulgaria, com base num jogo de homonímia, respeitante às dificuldades internas no momento da aclimatação dos religiosos nas Caldas da Saúde.
Como disse, a Companhia de Jesus aqui chegou aos começos de 1932. Os inícios foram difíceis. Os seus membros encontrar-se-iam divididos por cisões internas, às vezes de forte tensão. Era reitor do Colégio o P.e Raul Sarreira 1932-1936), que, depois, foi reitor da Faculdade de Filosofia de Braga. Foi ele que ergueu o edifício, ao lado norte da fachada central, ainda hoje conhecido de seu nome, o de Pavilhão Sarreira. Estaria no centro da cisão entre os membros da sua ordem que habitavam no colégio.
Pois, certo dia, dirigiu-se o P.e Sarreira, por motivos imperiosos, a Santo Tirso. A senhora proprietária da Pastelaria Moura, ao ver passar aquele religioso na rua, convidaria o P.e Sarreira. Que provasse os famosos jesuítas, que dentro da sua casa, se fabricariam.
Entrou ilustre sacerdote. Sentou-se na pastelaria e logo lhe ofereceram um "jesuíta" da casa. Entrou com medo. Provou vagarosamente e à cautela. Mas, apanhando-lhe o gosto, acabou incontinente de sofreguidão.
- O Sr. Padre parece que gosta bem! - disse amável e cheia de contentamento a proprietária.
Resposta maliciosa do P.e Sarreira:
-Os jesuítas são mesmo assim. Devoram-se uns aos outros...
Se non é vero, é bene trovato...
4. Os pastéis da Casa Moura são, de facto, deliciosos. Inculca-se a presença de um véu misterioso, de escuro segredo, a sete chaves fechado, que só uma pessoa da casa o saberá...
Pressuposto inteiramente falso, que o seu valor resulta apenas da autenticidade do fabrico: a selecção criteriosa da matéria prima e o ritmo controlado da produção no que toca ao tempo de espera. E ainda um fabrico condicionado por dois factores essenciais, com o crecendo e decrescendo da comercialização, no curso de uma semana e com o número de encomendas antecipadamente recebidas no establecimento. Acresce a favor da sua qualidade a feição artesanal do lavor na empresa. E assim, não há matéria, nem produto acabado que, artificialmente, se resguarde em siberianos congeladores. Ao fim da semana aumenta a produção, para obviar à maior procura dos últimos dias. Desta maneira, tudo quanto num dia se fabrica, nesse mesmo dia se esgota.
5. Os jesuítas têm o aspecto de um triângulo alongado. Mesmo, neste campo, descarta-se o artificialismo das formas metálicas. A palma da mão aberta lhe serve de suporte imediato. Por isso, os jesuítas da Moura não têm todos o mesmo tamanho, que tudo depende da área da mão que o Criador terá dado ao artista que, com tanto carinho, o modela e que, com o mesmo fervor, lhe retira as suas rebarbas. E estas mesmo, assim frescas e genuínas, irão dar a substância dos igualmente famosos limonetes.
Sacrifica-se a ganância do lucro fácil à oferta do produto na sua antenticidade genuína.
Mais que a aparência, o culto do bom gosto. Fazem o resto o amor e a arte. Este é que é mesmo o segredo dos jesuítas da Moura.
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Aliás - e para uma informação complementar - séculos atrás, desde 1572 até 1759 - viveram já os membros da Companhia de Jesus, no perímetro actual do concelho de Santo Tirso, na igreja de S. Pedro de Roriz. De qualquer forma, nem os jesuítas rodericenses, nem os arenenses das Caldas deram aos famosos pastéis da Moura.
Todavia, haverá sempre uma ligação, que não aquela que se supunha. Recebi uma notícia, cuja veracidade não encontro sob chancela da confirmação: que o dito espanhol inominado, viera do norte de Espanha, de Bilbao (?) onde teria exercido as funções de cozinheiro dos jesuítas. E que aí teria assimilado o segredo da arte dos folhados. E que fora o mencionado pasteleiro que o terá introduzido na nossa cidade. Daí que os bolos tenham recebido dos padres que o saboreavam o nome por que hoje, efectivamente, se conhecem: os jesuítas.
A propósito do nome e da presença da Companhia de Jesus no nosso concelho, uma anedota que, por aqui, se divulgaria, com base num jogo de homonímia, respeitante às dificuldades internas no momento da aclimatação dos religiosos nas Caldas da Saúde.
Como disse, a Companhia de Jesus aqui chegou aos começos de 1932. Os inícios foram difíceis. Os seus membros encontrar-se-iam divididos por cisões internas, às vezes de forte tensão. Era reitor do Colégio o P.e Raul Sarreira 1932-1936), que, depois, foi reitor da Faculdade de Filosofia de Braga. Foi ele que ergueu o edifício, ao lado norte da fachada central, ainda hoje conhecido de seu nome, o de Pavilhão Sarreira. Estaria no centro da cisão entre os membros da sua ordem que habitavam no colégio.
Pois, certo dia, dirigiu-se o P.e Sarreira, por motivos imperiosos, a Santo Tirso. A senhora proprietária da Pastelaria Moura, ao ver passar aquele religioso na rua, convidaria o P.e Sarreira. Que provasse os famosos jesuítas, que dentro da sua casa, se fabricariam.
Entrou ilustre sacerdote. Sentou-se na pastelaria e logo lhe ofereceram um "jesuíta" da casa. Entrou com medo. Provou vagarosamente e à cautela. Mas, apanhando-lhe o gosto, acabou incontinente de sofreguidão.
- O Sr. Padre parece que gosta bem! - disse amável e cheia de contentamento a proprietária.
Resposta maliciosa do P.e Sarreira:
-Os jesuítas são mesmo assim. Devoram-se uns aos outros...
Se non é vero, é bene trovato...
4. Os pastéis da Casa Moura são, de facto, deliciosos. Inculca-se a presença de um véu misterioso, de escuro segredo, a sete chaves fechado, que só uma pessoa da casa o saberá...
Pressuposto inteiramente falso, que o seu valor resulta apenas da autenticidade do fabrico: a selecção criteriosa da matéria prima e o ritmo controlado da produção no que toca ao tempo de espera. E ainda um fabrico condicionado por dois factores essenciais, com o crecendo e decrescendo da comercialização, no curso de uma semana e com o número de encomendas antecipadamente recebidas no establecimento. Acresce a favor da sua qualidade a feição artesanal do lavor na empresa. E assim, não há matéria, nem produto acabado que, artificialmente, se resguarde em siberianos congeladores. Ao fim da semana aumenta a produção, para obviar à maior procura dos últimos dias. Desta maneira, tudo quanto num dia se fabrica, nesse mesmo dia se esgota.
5. Os jesuítas têm o aspecto de um triângulo alongado. Mesmo, neste campo, descarta-se o artificialismo das formas metálicas. A palma da mão aberta lhe serve de suporte imediato. Por isso, os jesuítas da Moura não têm todos o mesmo tamanho, que tudo depende da área da mão que o Criador terá dado ao artista que, com tanto carinho, o modela e que, com o mesmo fervor, lhe retira as suas rebarbas. E estas mesmo, assim frescas e genuínas, irão dar a substância dos igualmente famosos limonetes.
Sacrifica-se a ganância do lucro fácil à oferta do produto na sua antenticidade genuína.
Mais que a aparência, o culto do bom gosto. Fazem o resto o amor e a arte. Este é que é mesmo o segredo dos jesuítas da Moura.
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