NÃO TEMOS TEMPO PARA NADA!
Estamos sempre a falar do tempo, mas fazemo-lo, quase sempre, sem pensar. Dizemos: "Não tenho tempo", "O tempo nunca mais passa" ou "Mato o tempo como posso", "Não temos tempo p'ra nada", ou ainda, "Que raio de tempo, sempre a chover", mas qual de nós pode dizer que já viu o tempo? Ninguém. O tempo é invisível, silencioso, impalpável, sem cheiro e sem sabor. Aquilo que observamos em nosso redor nunca é o tempo...mas apenas os traços que deixa no espaço e os efeitos que provoca: o desgaste da pintura de um automóvel, ou de uma casa, a erosão de uma montanha, o apodrecimento de uma maçã, ou as rugas que vincam os nossos rostos. Por um hábito herdado não se sabe de quem, quando olhamos para os ponteiros de um relógio a avançar, estamos convencidos de que é o próprio tempo que vemos passar sob os nossos olhos. Mas o que vimos, é apenas um movimento, o de uma agulha que se move no espaço. Confundimos sistematicamente o tempo com a sua manifestação primária - o movimento. Ninguém pode negar a "pressão" que o tempo exerce sobre nós, através dos calendários, dos relógios, dos horários, de uma forma por vezes discreta mas omnipresente. Falamos de tempo sem sabermos do que falamos. Colocam-se demasiadas questões sobre o tempo. E que definição adoptar? Podemos sempre dizer que o tempo é o que ele faz ou desfaz: "que é a ordem das coisas que se sucedem, que é a imagem móvel de eternidade imóvel ou que é a forma mais cómoda que a Natureza encontrou para que tudo não aconteça de uma só vez". O que constatamos à nossa volta são movimentos, alterações, envelhecimentos, repetições, ciclos, mas nunca o "tempo real". O seu fluxo depende da intensidade dos acontecimentos que vivemos naquele momento: Passa lentamente quando estamos chateados. Muito lentamente, quando estamos impacientes e, demasiado depressa, quando nos sentimos bem e adoraríamos que parasse o tempo, completamente, quando vivemos determinados momentos de alegria. Só que o tempo não pára. Imaginemos, o que aconteceria se o nosso tempo psicológico parasse, e o nosso tempo físico continuasse a correr. Tudo à nossa volta continuaria como dantes, mas nós continuaríamos paralisados, na disposição de espírito onde estávamos quando o nosso tempo parou. Ficariam congelados o nosso pensamento e as nossas emoções, mas o tempo, este, continuaria no seu movimento de rotação e translação à volta do sol. Se os dois tempos parassem, ou seja, se tudo parasse dentro e fora de nós, tudo desapareceria - ora, "não haver tempo" equivale a dizer que não dura e não durar significa que não existe. O parar do tempo significaria o fim do presente, o que quereria dizer que tudo o que existe desapareceria. Não quer dizer que o tempo nunca venha a parar, significa simplesmente que somos incapazes de pensar um mundo que viva fora do tempo. Erwin Schodinger, um dos maiores Físicos deste século, explica que: "para provar o intemporal, basta uma circunstância que, sem suspender o tempo, nos cole de alma e coração ao presente". E para que a vida se viva assim ao extremo, diz ele, pode bastar um beijo: " Ama a mulher do teu coração, dá-lhe um beijo na boca, e verás que o tempo pára e o espaço deixa de existir".
É um Físico que o diz.
Cruz dos Santos
Coimbra/Portugal
-o-o-o-o-o-o-o-o-
.