Há artistas que nascem com o selo de uma missão colado à vida.
São aqueles que põem o sonho, a consciência, a fé, acima de tudo e até de si próprios. Podem as condições de existência desviá-los por momentos nas agruras do ganha-pão, mas esses artistas bravamente saltam os limites impostos e deixam jorrar a sua sensibilidade.
São aqueles artistas que dão a cara à vida, sabendo que podem sofrer.
Assim é Mano Belmonte, um membro de facto e de direito da comunidade portuguesa do Canadá. Porque a tem servido com amor, ternura e constância ao longo de 30 anos - sempre por amor de Deus e da Pátria, essa a quem serviu numa guerra que ninguém quis mas a que a lealdade viril obrigou. Porque, com o maior despojamento e generosidade, tem posto o seu talento ao serviço de todos.
A sua voz tem agora a tonalidade e a densidade de um velhíssimo vinho do Porto, com todos os ingredientes de uma fina alma. Ouvi-lo é como ter ao lado um irmão, nesta escola de emigração que, de tão severa, pode refinar ou pode estiolar o carácter. É como fechar os olhos na certeza que de Mano Belmonte é um dos nossos e não falha, está sempre ao lado dos que precisam da sua voz, da sua presença, do seu exemplo de patriotismo sem comenda nem banquete.
Deviam ser assim os marinheiros de 500, anónimos e cheios de raça, sofrendo o mar e cantando o fado no desbravar do mundo, trazendo na voz o sul e o sal da Pátria amada.
Mano Belmonte foi dádiva sem preço que esta comunidade recebeu.
Temos motivos para estar gratos.
-Fernanda Leitão- (Jornal 'Portugal Ilustrado')