(Sábia utilizadora dos processos surrealistas, ao serviço de uma pedagogia hermenêutica e argumentativa; barroca no protagonismo da linguagem e romântica na mundividência e nos anseios...a experiência e o talento polifacéticos de poetisa, narradora e dramaturga, já longamente provados.)
Cruz dos Santos
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"Existe um planeta onde os seres têm dois buracos. A um chamam eles superior. Ao outro, inferior. Aqui está o absurdo dos habitantes deste planeta, já que pelo primeiro ingerem cadáveres de animais, legumes e frutos cujos resíduos, triturados por um aparelho que tem o nome de digestivo, expelem pelo último. Isto é: consideram superior a fenda que repleta de porcaria e inferior o orifício que dessa lama os alivia. Mas são assim. Trocam tudo. E para justificar a inversão que é o seu modo de ser e de viver, inventam ideias superiores e humanitárias que pelo primeiro buraco derramam em ludibriosa matéria sonora de que se orgulham, chamando a isso o dom de falar. Outro orifício, visto que este estratagema vocal mais não é do que uma armadilha que convence os incautos de que as revoluções são a luta pela maior absorção de cadáveres, dignificando assim ideologicamente a função do buraco que os ingere. E, para mais prestigiar a pavorosa fenda, ao buraco que têm por inferior designam de ignóbil o seu uso, para o qual empregam uma palavra injuriosa.
Neste planeta perdi o melhor do meu tempo com seres que execram o que os liberta e exaltam o que os enche de imundície.
Sugiro que os idiotas que têm a mania de libertar os oprimidos meditem no ensinamento que se extrai desta raça que sublima o que a emporcalha e vota ao ódio que a liberta. Os opressores conhecem-na. Por isso, sendo eles os doutrinados do apetite que enchouriça de nauseabundo recheio os seres do absurdo planeta, são por estes idolatrados.
Assim vos ouço, assim vos vejo, ó revolucionários criadores de porcos neste planeta em que pregais o despotismo da biologia".
Natália Correia
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Cruz dos Santos
Coimbra-Portugal
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"Existe um planeta onde os seres têm dois buracos. A um chamam eles superior. Ao outro, inferior. Aqui está o absurdo dos habitantes deste planeta, já que pelo primeiro ingerem cadáveres de animais, legumes e frutos cujos resíduos, triturados por um aparelho que tem o nome de digestivo, expelem pelo último. Isto é: consideram superior a fenda que repleta de porcaria e inferior o orifício que dessa lama os alivia. Mas são assim. Trocam tudo. E para justificar a inversão que é o seu modo de ser e de viver, inventam ideias superiores e humanitárias que pelo primeiro buraco derramam em ludibriosa matéria sonora de que se orgulham, chamando a isso o dom de falar. Outro orifício, visto que este estratagema vocal mais não é do que uma armadilha que convence os incautos de que as revoluções são a luta pela maior absorção de cadáveres, dignificando assim ideologicamente a função do buraco que os ingere. E, para mais prestigiar a pavorosa fenda, ao buraco que têm por inferior designam de ignóbil o seu uso, para o qual empregam uma palavra injuriosa.
Neste planeta perdi o melhor do meu tempo com seres que execram o que os liberta e exaltam o que os enche de imundície.
Sugiro que os idiotas que têm a mania de libertar os oprimidos meditem no ensinamento que se extrai desta raça que sublima o que a emporcalha e vota ao ódio que a liberta. Os opressores conhecem-na. Por isso, sendo eles os doutrinados do apetite que enchouriça de nauseabundo recheio os seres do absurdo planeta, são por estes idolatrados.
Assim vos ouço, assim vos vejo, ó revolucionários criadores de porcos neste planeta em que pregais o despotismo da biologia".
Natália Correia
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