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Pois é, pois é!... em 1896 Guerra Junqueiro escrevia assim..." Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonânbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, - reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (...)
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infãmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sicedem, entre a indeferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)
Abílio de Guerra Junqueiro (1896)
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