LADINA E PERIGOSA
Os políticos cegam de avidez pela comunicação social, principalmente pela televisão, a ponto de se suspeitar que são feitos pela propaganda e não pela competência, a moral e os valores cívicos. Chega a medir-se a importância de um político pelo tempo de antena que lhe é concedido diariamente. Muitos políticos há que se tomam por superiores e importantes pelo facto de estarem constantemente a ser solicitados pela televisão. É assim que se arranjam os sarilhos... Poucas semanas depois do 25 de Abril de 1974, apareceram na RTP uns entrevistadores, recrutados em vários escalões profissionais, que, à falta de competência jornalística e de bom senso, se arvoraram em juízes de pacotilha e transformaram as entrevistas em verdadeiros tribunais populares. Preciso era liquidar, espezinhar, insultar. Inesquecível um deles, um jovem advogado, filho de professor universário, que exibia uma barbicha mefistofélica e uns cabelos ao vento, porque se excedia na chicana, no insulto, no desprezo com que tratava aqueles que suspeitava não serem esquerdistas extremos como ele. Confesso que ainda hoje não compreendo como os entrevistados-réus não saíram porta fora, depois de assentarem um par de estalos no galaroz, ali, em cena aberta, diante do país todo. Mas o medo era muito. No entanto, graças à transmissão directa pela televisão, esse e outros entrevistadores ficaram detestados para sempre. A televisão foi-lhes sepultura política. No lado oposto do espectro ideológico, a cena repetiu-se. Há dias a RTP transmitiu em directo a inquiração de Victor Constâncio, Governador do Banco de Portugal, por uma comissão parlamentar em que todos, com sublinhado para um jovem deputado, foram exímios na tentativa de achincalhar. Esquecidos que, semanas antes, a mesma RTP transmitiu em directo a galhofa entre eles e o Senhor Oliveira e Costa, preso por malfeitorias no BPN. Essas risadas tiveram o efeito de uma bofetada no vasto eleitorado que, em Portugal e na Emigração, seguem a triste situação da Pátria. E, portanto, os arreganhos coléricos da inquiração a Victor Constâncio tiveram para nós uma leitura desagradável: tinha de ser assim, porque não era das águas partidárias dos inquisidores. O tempo vai passar sobre isto, como passou em 1974 sobre o que conto acima. Mas, porque estes senhores não percebem que a televisão é perigosa e ladina, ficam rotulados para muitos anos. Assim o terão, porque assim o querem. Não está em causa o mais ou menos correcto que foi o Banco de Portugal. Está em causa, sim, os dois pesos e duas medidas, a partidarite nauseabunda que tem desgraçado Portugal.
-o-o-o-o-o-o-
Os políticos cegam de avidez pela comunicação social, principalmente pela televisão, a ponto de se suspeitar que são feitos pela propaganda e não pela competência, a moral e os valores cívicos. Chega a medir-se a importância de um político pelo tempo de antena que lhe é concedido diariamente. Muitos políticos há que se tomam por superiores e importantes pelo facto de estarem constantemente a ser solicitados pela televisão. É assim que se arranjam os sarilhos... Poucas semanas depois do 25 de Abril de 1974, apareceram na RTP uns entrevistadores, recrutados em vários escalões profissionais, que, à falta de competência jornalística e de bom senso, se arvoraram em juízes de pacotilha e transformaram as entrevistas em verdadeiros tribunais populares. Preciso era liquidar, espezinhar, insultar. Inesquecível um deles, um jovem advogado, filho de professor universário, que exibia uma barbicha mefistofélica e uns cabelos ao vento, porque se excedia na chicana, no insulto, no desprezo com que tratava aqueles que suspeitava não serem esquerdistas extremos como ele. Confesso que ainda hoje não compreendo como os entrevistados-réus não saíram porta fora, depois de assentarem um par de estalos no galaroz, ali, em cena aberta, diante do país todo. Mas o medo era muito. No entanto, graças à transmissão directa pela televisão, esse e outros entrevistadores ficaram detestados para sempre. A televisão foi-lhes sepultura política. No lado oposto do espectro ideológico, a cena repetiu-se. Há dias a RTP transmitiu em directo a inquiração de Victor Constâncio, Governador do Banco de Portugal, por uma comissão parlamentar em que todos, com sublinhado para um jovem deputado, foram exímios na tentativa de achincalhar. Esquecidos que, semanas antes, a mesma RTP transmitiu em directo a galhofa entre eles e o Senhor Oliveira e Costa, preso por malfeitorias no BPN. Essas risadas tiveram o efeito de uma bofetada no vasto eleitorado que, em Portugal e na Emigração, seguem a triste situação da Pátria. E, portanto, os arreganhos coléricos da inquiração a Victor Constâncio tiveram para nós uma leitura desagradável: tinha de ser assim, porque não era das águas partidárias dos inquisidores. O tempo vai passar sobre isto, como passou em 1974 sobre o que conto acima. Mas, porque estes senhores não percebem que a televisão é perigosa e ladina, ficam rotulados para muitos anos. Assim o terão, porque assim o querem. Não está em causa o mais ou menos correcto que foi o Banco de Portugal. Está em causa, sim, os dois pesos e duas medidas, a partidarite nauseabunda que tem desgraçado Portugal.
-o-o-o-o-o-o-
Sem comentários:
Enviar um comentário