Mas temos medo de quê?
Afectivamente, andamos perdidos. Como toda a Europa. Mas nós, é à nossa maneira. Talvez um pouco menos do que a Europa, porque conservamos, intactos, alguns dos padrões e estratos arcaicos a que nos agarramos. Esperemos que as novas gerações mudem isto, porque enquanto continuarmos a caminhar de dentro para fora, é provável que o horizonte mental se alargue por choques sucessivos, acabando por fazer deslizar o pensamento pelas vias largas desta velha e concorrida Europa!
Estamos a ficar apertados, congelados, daí o ter medo de sairmos desta "fossa" financeira. Medo do rival, do colega, dos outros candidatos ao mesmo lugar. Medo agravado pela subavaliação, que o indivíduo faz de si mesmo, julgando-se sempre abaixo nível exigido, nunca á altura de que se lhe pede. É natural. As empresas fecham, a concorrência é feroz, estamos no limiar do meio milhão de desempregados, a dívida pública está astronomicamente descontrolada e o défice volta a disparar. As receitas fiscais caiem a pique por causa da recessão. Os progressos das sociedades não se revela apenas pelo nível da corrupção e a verdade é que nós somos muito coniventes com essas irregularidades. Como é que se muda esta mentalidade de conivência? Sim, porque a culpa não é só dos políticos ou de quem ocupa cargos, é também das pessoas! Por outro lado, o "esmagamento" a que os portugueses foram sujeitos, manifesta aqui um dos seus efeitos. Ninguém se julga capaz, toda a gente se sente inferior à norma ideal de competência. O que não deixa de ser, em inúmeros casos, real, mas que contribui também para que a incompetência aumente por falta de audácia, de coragem, de capacidade para reconhecer o que se é.
Almeida Garret, escritor dramaturgo do século dezanove, preocupado com a posição de Portugal na balança da Europa, naquela época, escrevia: " Praza a Deus que todos, de um implulso, de um acordo, de simultâneo e unido esforço, todos os Portugueses, sacrificadas as opiniões, esquecidos ódios, perdoadas injúrias, ganhemos peito e metamos ombros, à difícil mas não impossível tarefa de salvar, de reconstituir a nossa perdida e desconjuntada Pátria - de reequilibrar enfim Portugal na balança de Europa".
E, porque não? O País ainda não foi ao fundo, mas temos água pela cintura! E não será este um bom aviso? Não chega?
Cruz dos Santos
Coimbra/Portugal
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