Os portugueses sofrem na pele as consequências da crise que se abateu sobre a sua economia, mas já começam a ficar imunes ao autêntico bombardeamento noticioso que todos os dias explora o tema, das mais diversas maneiras. Nesse conjunto de notícias, histórias, dramas e casos de polícia entram, também, as receitas mais ou menos milagrosas que muitos daqueles que não deram pela crise a rebentar querem agora apresentar para se sair da mesma.
A Igreja Católica, ao reflectir sobre estes temas, deve evitar aparecer como mais uma "receitadora" perante a crise, até porque o seu notável trabalho junto daqueles que mais sofrem a torna uma voz muito mais autorizada do que aqueles que têm da pobreza apenas a imagem que lhes chega pela televisão ou nas fotos dos jornais.
Ao pedir uma nova pedagogia social, na sequência das suas últimas Jornadas Pastorais - num documento conclusivo que vale a pena ler com atenção - os Bispos do nosso país admitiam que as profundas mudanças que vivemos obrigam a inovação e criatividade. A crise é nova e seria impensável usar receitas do passado - lá está - para a tentar resolver.
Verdade seja dita, neste novo paradigma de vida cabem muitos dos valores que a Igreja sempre defendeu para as suas comunidades e para a sociedade. Por algum motivo, a mensagem não passou e isso, só por si, seria um motivo de reflexão muito sério num país com mais de 2 milhões de pobres, apesar de uma grande maioria da população se declarar católica.
"Ser católico" poderia, pura e simplesmente, surgir como o caminho que os líderes da Igreja têm a apontar aos seus fiéis, desde que se tirem dessa profissão de fé e de estilo de vida todas as suas consequências políticas, sociais, e conómicas e culturais. O pudor com que muitos abordam o seu catolicismo, na praça pública, torna menos visível esta dinâmica de cidadania que está presente nos baptizados que assumem a fundo esta condição.
A desilusão gerada pelo fim de um ciclo, na vida mundial, torna ainda mais pertinente de esperança mais transformadora do que geradora de pessoas acomodadas, à espera do fim dos tempos, indeferentes ao correr dos dias.
A nova encíclica de Bento XVI poderá vir, neste contexto, a ser um sinal gigante deste atenção da Igreja aos efeitos da crise, com um conjunto importante de orientações e de estimulos em tempos novos, ainda com desfecho incerto.
Octávio Carmo
Agência Ecclesia
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