GAFFES PARA A HISTÓRIA
O parlamento português é como aquele anúncio do brandy Constantino: a fama vem de longe. Mais precisamente, vem dos finais da Monarquia: ali, sem reticências, Afonso Costa rosnava pela morte do Rei D. Carlos e outros chegaram a difamar a Rainha Dona Amélia. No período da I República, o parlamento refinou a má criação e, transformado em mercado de peixe, viu cadeiras partidas e até um deputado de arma em punho. O interregno salazarista não introduziu educação no país, mas optou pela repressão, e todos ali tinham de ser como o homem de Santa Comba Dão: palavras medidas, cigarros nenhuns e chapéu de feltro no final dos trabalhos. Era a verdadeira clonagem do ditador.
Com a revolução do 25 de Abril de 1974, cedo se viu que o parlamento iria repetir a prática do parlamento saído da revolução do 5 de Outubro de 1910.
Em boa verdade, há já muito tempo que o povo olha, desgostoso e revoltado, para aquele pátio que é obrigado a pagar.
Por aquela sala de sessões tem passado tudo: palavrões, ameaças, difamações, graçolas, mentiras, o que se queira.
Nos anos 80 até por lá passou uma deputada italiana, a Cicciolina, que exibiu um farto seio a sobrar-lhe do decote, porque era uma rapariga muito dada e generosa, e os deputados não reclamaram nem se lembraram do "respeito à instituição". Uma ocasião a poetisa Natália Correia, então deputada, escreveu uns apimentados e bréjeiros versos a um colega que tinha ideias feitas acerca do acto sexual, e todos se riram muito, o que se compreende porque o tal era da direita. Acrescente-se a isto as difamações e mentiras que por ali têm rolado alegremente.
No entanto, agora que Manuel Pinho, o demitido ministro da Economia, perdeu as estribeiras e esticou os polegares junto à testa, talvez a chamar garraio ao garoto que o estava a querer espezinhar, os comunistas gritaram que nem virgens ofendidas. Todos ele estalinistas, os do PC que herdaram de Álvaro Barreirinhas Cunhal, aqueles dum bloco dirigido por um sujeito que parece uma sandes de caviar em pão saloio e também aqueles que são melancias, verdes por fora e vermelhos por dentro. Mas todos da mesma matriz e bebendo da mesma fonte.
E no entanto, essa gritaria não ficará para a história. Para a história ficam as palavras dos pimpões que afrontam essa gente que, embora eles julguem que não, o chamado povo unido detesta e em quem não confia. Um bom exemplo disso foi dado pelo almirante Pinheiro de Azevedo que, sendo primeiro ministro a quando do cerco que os comunistas fizeram ao parlamento, foi à varanda de São Bento, em transmissão televisiva directa para o país, os mandou, alto e bom som, abaixo de Braga. Pinheiro de Azevedo, que era bom homem, não seria bom primeiro ministro, ou não teria tido oportunidade de o ser, mas o povo recorda-o com carinho, e secreto orgulho, por ele ter dito o que o país inteiro queria ter dito. Vai acontecer o mesmo com Manuel Pinho. Basta conhecer o povo português, o povo do interior, o povo do trabalho. E também basta correr os comentários de leitores nos jornais e e o que vai pelos blogues.
Porque, para quem não sabe e para quem já se esqueceu, os comunistas não querem um regime democrático em Portugal e tudo farão para o deitar abaixo. Legítimos e directos herdeiros de Cunhal, o cão fiel da União Soviética das purgas, dos gulags e dos assassinatos, estes de agora não esquecem o que ele disse, em 1975, numa entrevista a Oriana Fallaci: antes queria uma ditadura, ainda que sangrenta como a de Pinochet, do que uma democracia burguesa. Se ainda os temos a fazer confusões e misérias, a Melo Antunes e à cobardia geral o devemos, pois as contas deviam ter sido acertadas no 25 de Novembro. Como, de resto, as contas com a pide e o salazarismo deviam ter sido feitas em 1974. Essa cobardia deu nesta misturada fatal. O que é perigoso.
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