O Padre Francisco Rodrigues da Cruz, o mais famoso sacerdote oriundo do território daquela que é hoje a diocese de Setúbal, nasceu em Alcochete, a 29 de Julho de 1859 e morreu em Lisboa a 1 de Outubro de 1948.
Esta Vila já notável, entre outros motivos, por ter sido o berço fde D. Manuel I, o Venturoso, e do Beato Manuel Rodrigues, um dos 40 mártires do Brasil, viu crescer a sua importância, por ter nascido, aquele que já em vida era conhecido pelo Santo Padre Cruz, que esperamos, um dia, venerar nos altares. Em 2009 celebra-se os 150 anos do seu nascimento.
Um santo é um semeador de ideal que espalha o bem e prepara colheitas para o céu. Alcochete orgulha-se de ter sido o berço daquele que seria outro S João Maria Vianney, o Santo Cura d'Ars, que faleceu uma semana depois de nascer o Santo Padre Cruz. Em pleno ano sacerdotal, esta coincidência parece dizer-nos que Deus não queria apagar uma luz sem nos deixar outra acesa.
Santo foi o nome que lhe puseram já aos 35 anos de idade e a fama de santidade foi sempre em aumento, até ao seu falecimento. Bispos, sacerdotes, pessoas de todas as categorias sociais o tinham por santo e como tal o veneravam. E esta fama cresceu a tal ponto que, depois da morte, o seu jazigo, no cemitério de Benfica, é visitado diariamente, por muitos fiéis, que lá vão cumprir promessas, pedir e agradecer graças, alcançadas de Deus, por sua intercessão.
Ordenado a 3 de Julho de 1882, desempenhou funções de director espiritual no Seminário de S.Vicente de Fora. Praticou heroicamente o que inculcava aos sacerdotes: -Confessar enquanto se apresentarem pecados, pregar enquanto houver ouvintes, e rezar até já não se poder mais -.
A sua figura inconfundível foi para o povo português católico, naquele tempo, uma âncora salvadora: levemente corcovado, um sorriso de inocência sempre no seu rosto fatigado, um ar de recolhimento habitual, perdido em Deus, na intimidade divina que o atraía a desprender-se dos bens terrenos, para os dar generosamente aos mais necessitados que encontrava.
Mesmo nos tempos mais revoltosos e intolerantes, o Padre Cruz trajava sempre de batina e roupão eclesiástico, e na cabeça, um largo chapéu, já gasto pelo uso. Assim o conheceu Portugal, assim se recordam dele, hoje, muitos que o conheceram. A presença do Padre Cruz em missões e tríduos pelas aldeias e vilas do país; o encontro do Padre Cruz nos comboios, nas ruas de Lisboa, nas Igrejas, nas cadeias, nos hospitais, sempre aliviando penas, confortando misérias, dando coragem aos timoratos e oferecendo certezas duma renovação cristã aos desalentados, era um "espectáculo" a que Portugal se habituara.
O Padre Cruz foi o Apóstolo que Deus deu a Portugal naqueles tempos agitados. Apóstolo da Caridade lhe chamaram, e a placa da Avenida do Padre Cruz em Lisboa, a todos o lembra. Todo o apóstolo compreende a sensibilidade dos homens do seu tempo. Enquanto viveu, este sacerdote compreendeu os seus contemporâneos, e esta compreensão deu-lhe um acesso relativamente fácil aos corações sedentos de verdade, de ideal, de transcendência.
Em 1940 cumpriu um desejo antigo e fez-se jesuíta aos 80 anos. Apesar da idade, a sua velhice não é inda a "ruína" doutros anciãos. No seu corpo decrépito arde a chama imortal da vida divina. É já uma "sombra velhinha": mas a essa sombra descansam novos, mais fatigados e envelhecidos de alma do que ele.
Faleceu no primeiro dia de Outubro de 1948. A notícia foi divulgada pela Emissora Nacional. no noticiário das 13 horas. Quando os jornais da tarda saíram, já meia Lisboa e meio Portugal sabiam que tinha morrido o Padre Cruz.
Três anos depois, em 1951, o processo de beatificação iniciou-se em Lisboa e entregue à Santa Sé em 1965. Com a Igreja a viver um Ano sacerdotal, será que o nosso país receberá a notícia de mais um beato?
Pesquisa e texto: Mano Belmonte
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