A FALTA QUE ELE FAZ
Durante os 48 anos da ditadura salazarista milhões de portugueses sonharam com um Portugal onde fosse garantido o direito à habitação, trabalho, saúde, educação, justiça célere e acessível, liberdade de expressão e de associação, respeito pelos Direitos Humanos, imprensa livre e credível, nenhuma guerra, independência das colónias em condições honrosas para ambas as partes e nada de subserviências às potências estrangeiras. Sonharam com uma Pátria digna, livre de corrupção e compadrio, onde cada cidadão fosse avaliado pela sua competência e honradez. Muitos dos que sonharam tiveram de emigrar para poderem dar pão aos filhos, outros tiveram de exilar-se por sofrerem perseguição, muitos outros viveram longos anos exilados dentro do próprio país.
Quando chegou o 25 de Abril de 1974, quase todos se entregaram de alma e coração ao que julgavam ser a realização do seu sonho. Pouco mais de um ano depois, a feia realidade feriu-os de modo irremediável. A descolonização redundou em benefício dos partidos locais enfeudados à então União Soviética e aos interesses americanos, e em imensa tragédia para milhões de negros e brancos. A chamada reforma agrária e as nacionalizações, de tão selvagens e brutais, destruíram o tecido económico. O trabalho tornou-se escasso, enquanto os subsídios de desemprego atingiam montantes nunca antes vistos. A habitação era objecto de especuladores, de modo que dezenas de milhar de pessoas foram atiradas para os bairros da lata, enquanto outras eram atiçadas por aventureiros revolucionários, alguns estrangeiros, a invadir e ocupar casas que eram de outrem. Os hospitais, com pessoal da limpeza a presidir a comissões que tudo anarquizavam, só não entraram em colapso graças ao sentido de responsabilidade e abnegação de médicos e enfermeiros. A Educação, com ministros vários, a entrar e a saír, desde militares a economistas, bateu no fundo. Havia medo, sucediam-se as denúncias difamatórias e impunes, os saneamentos selvagens que atiraram largos milhares de pessoas ao desemprego, por obra e graça de "pides" da militância a soldo de certos partidos, enquanto nos proclamados "ladrões" e "criminosos" do regime anterior ninguém tocava, perante a total passividade da Justiça e de uma Polícia Judiciária que só tinha olhos e tempo para assediar jornalistas não dispostos a aceitar todo este descalabro.
No meio de todo este vendaval, sabendo-se bem quem eram os responsáveis directos pelo que se estava a passar, por exclusão de partes, os olhos do povo viraram-se esperançados para um político de grande inteligência e folha limpa, de prestigiado nome provados rendimentos, teso como as armas, a saber muito bem donde vinha e para onde ia, sofrendo de um público asco pela corrupção, a mentira e o compadrio.
Esperava-se que ele desse a volta ao país e devolvesse aos portugueses o sonho de muitos anos. Mas não se esperava que ele fosse abatido cobardemente, tão cobardemente que a investigação policial foi uma nódoa a dar que pensar, e a Justiça andou para trás e para diante sem chegar a lado nenhum. Foi uma grande desgraça para Portugal e para o partido a que presidia.
Se Francisco Sá Carneiro não tivesse sido varrido do número dos vivos por quem tinha conveniência nisso, nem Portugal nem o PSD tinham chegado ao que chegaram.
Não se duvide que não teriam vicejado os barões corruptos que andam a contas com a Justiça desde o cavaquismo, porque ele seria o primeiro a cortar a direito, a pô-los fora, ao contrário do que acontece actualmente. Nem se duvide que não teria medrado o bando de medíocres que faz do PSD ser um clube de facciosos, pois ele abriu o partido a pessoas oriundas de vários campos ideológicos e nunca se sujou fazendo acertos mesquinhos com rivais. Listas, para ele, eram de serviço ao país, não eram conchavos de balneário desportivo. Porque era um senhor, porque era superior, não precisava de deitar mão de expedientes. Fazia rupturas? Fazia, sempre que era necessário. Podia fazê-las, tinha envergadura política, intelectual e moral para o fazer.
Francisco Sá Carneiro podia ter garantido a Portugal uma democracia limpa, inteligente, desempoeirada, moderna. Quem sabotou aquele avião, sabe Deus a mando de quem, apunhalou Portugal pelas costas.
A falta que ele faz!
As listas apresentadas pelo PSD fazem-nos sentir assim. Se aquela é a guarda pretoriana da presidente, estamos conversados. Compreende-se muito bem que, no interior do país, já vários tenham tido a honestidade e a coragem de desfiliar-se, e muitos estejam a preparar-se para o fazer. E quanto à Emigração, ela agradece o insulto estúpido de ser reconduzido José Cesário, um chico esperto que deixou um inesquecível rasto por estas terras do Resto do Mundo.
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Durante os 48 anos da ditadura salazarista milhões de portugueses sonharam com um Portugal onde fosse garantido o direito à habitação, trabalho, saúde, educação, justiça célere e acessível, liberdade de expressão e de associação, respeito pelos Direitos Humanos, imprensa livre e credível, nenhuma guerra, independência das colónias em condições honrosas para ambas as partes e nada de subserviências às potências estrangeiras. Sonharam com uma Pátria digna, livre de corrupção e compadrio, onde cada cidadão fosse avaliado pela sua competência e honradez. Muitos dos que sonharam tiveram de emigrar para poderem dar pão aos filhos, outros tiveram de exilar-se por sofrerem perseguição, muitos outros viveram longos anos exilados dentro do próprio país.
Quando chegou o 25 de Abril de 1974, quase todos se entregaram de alma e coração ao que julgavam ser a realização do seu sonho. Pouco mais de um ano depois, a feia realidade feriu-os de modo irremediável. A descolonização redundou em benefício dos partidos locais enfeudados à então União Soviética e aos interesses americanos, e em imensa tragédia para milhões de negros e brancos. A chamada reforma agrária e as nacionalizações, de tão selvagens e brutais, destruíram o tecido económico. O trabalho tornou-se escasso, enquanto os subsídios de desemprego atingiam montantes nunca antes vistos. A habitação era objecto de especuladores, de modo que dezenas de milhar de pessoas foram atiradas para os bairros da lata, enquanto outras eram atiçadas por aventureiros revolucionários, alguns estrangeiros, a invadir e ocupar casas que eram de outrem. Os hospitais, com pessoal da limpeza a presidir a comissões que tudo anarquizavam, só não entraram em colapso graças ao sentido de responsabilidade e abnegação de médicos e enfermeiros. A Educação, com ministros vários, a entrar e a saír, desde militares a economistas, bateu no fundo. Havia medo, sucediam-se as denúncias difamatórias e impunes, os saneamentos selvagens que atiraram largos milhares de pessoas ao desemprego, por obra e graça de "pides" da militância a soldo de certos partidos, enquanto nos proclamados "ladrões" e "criminosos" do regime anterior ninguém tocava, perante a total passividade da Justiça e de uma Polícia Judiciária que só tinha olhos e tempo para assediar jornalistas não dispostos a aceitar todo este descalabro.
No meio de todo este vendaval, sabendo-se bem quem eram os responsáveis directos pelo que se estava a passar, por exclusão de partes, os olhos do povo viraram-se esperançados para um político de grande inteligência e folha limpa, de prestigiado nome provados rendimentos, teso como as armas, a saber muito bem donde vinha e para onde ia, sofrendo de um público asco pela corrupção, a mentira e o compadrio.
Esperava-se que ele desse a volta ao país e devolvesse aos portugueses o sonho de muitos anos. Mas não se esperava que ele fosse abatido cobardemente, tão cobardemente que a investigação policial foi uma nódoa a dar que pensar, e a Justiça andou para trás e para diante sem chegar a lado nenhum. Foi uma grande desgraça para Portugal e para o partido a que presidia.
Se Francisco Sá Carneiro não tivesse sido varrido do número dos vivos por quem tinha conveniência nisso, nem Portugal nem o PSD tinham chegado ao que chegaram.
Não se duvide que não teriam vicejado os barões corruptos que andam a contas com a Justiça desde o cavaquismo, porque ele seria o primeiro a cortar a direito, a pô-los fora, ao contrário do que acontece actualmente. Nem se duvide que não teria medrado o bando de medíocres que faz do PSD ser um clube de facciosos, pois ele abriu o partido a pessoas oriundas de vários campos ideológicos e nunca se sujou fazendo acertos mesquinhos com rivais. Listas, para ele, eram de serviço ao país, não eram conchavos de balneário desportivo. Porque era um senhor, porque era superior, não precisava de deitar mão de expedientes. Fazia rupturas? Fazia, sempre que era necessário. Podia fazê-las, tinha envergadura política, intelectual e moral para o fazer.
Francisco Sá Carneiro podia ter garantido a Portugal uma democracia limpa, inteligente, desempoeirada, moderna. Quem sabotou aquele avião, sabe Deus a mando de quem, apunhalou Portugal pelas costas.
A falta que ele faz!
As listas apresentadas pelo PSD fazem-nos sentir assim. Se aquela é a guarda pretoriana da presidente, estamos conversados. Compreende-se muito bem que, no interior do país, já vários tenham tido a honestidade e a coragem de desfiliar-se, e muitos estejam a preparar-se para o fazer. E quanto à Emigração, ela agradece o insulto estúpido de ser reconduzido José Cesário, um chico esperto que deixou um inesquecível rasto por estas terras do Resto do Mundo.
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