"Que o Criador abençoe o trabalho dos agricultores com colheitas abundantes e torne sensíveis os povos mais ricos ao drama da fome no mundo". (Papa Bento XVI)
- Respeitar os agricultores
Continua, porém, a ser comum a sua discriminação: porque os outros trabalhadores têm direitos de que eles nunca gozam; porque os bens por eles produzidos são constantemente desvalorizados e pagos a preços irrisórios; porque muitos os vêm como "parasitas", sempre à busca de subsídios governamentais. E, no entanto, todos nos alimentamos com o fruto do seu trabalho!
2. O cuidado da terra
Muito antes de a ecologia se tornar moda, já os agricultores cuidavam da terra com carinho e velavam para que ela produzisse os seus frutos. A industrialização da agricultura foi meio caminho andado para se perder esta sabedoria ancestral de quem vivia ao ritmo das estações e tratava a terra, as plantas e os animais com respeito amigo e reconhecido. A crise alimentar vivida no passado, embora mais especulativa de que real, foi um alerta para a urgência de voltar a uma relação de proximidade com a terra, não deixando campos produtivos ao abandono e promovendo a ocupação humana dos espaços rurais. Esta ocupação é uma "reserva estratégica" que nenhum país deveria descuidar e só ela permite uma verdadeira ecologia, protagonizada por quem cuida daquilo que conhece - sem idolatrias nem agressões próprias de gente que da terra e dos seus ritmos conhece, quando muito, o que lê nos livros.
3. Alimentos para todos
Noutros séculos, as grandes fomes eram motivadas, ou pelas guerras ou por colheitas escassas. Na segunda metade do século XX, depois das grandes fomes causadas pelas duas guerras mundiais, surgiu um fenómeno novo: populações inteiras, sobretudo em África e também em certas regiões da Ásia, foram deixadas à fome, por incúria dos respectivos governos e desinteresse dos países economicamente mais desenvolvidos. E, ao contrário do que muitos proclamaram e continuam a proclamar, estas situações não resultam da falta de alimentos - antes coincidem com produções excedentárias e enormes desperdícios. Basta atender aos números: mais de mil e 400 milhões de pessoas vivem com menos de um dólar por dia; metade dos alimentos produzidos actualmente é desperdiçada - se assim não fosse, chegariam para alimentar toda a população actual e aquela que se prevê venha a existir em 2050; um terço do leite produzido nunca é utilizado; um quarto da produção americana de frutos e vegetais apodrece na distribuição; metade do lixo dos aterros australianos é constituída por restos alimentares; um terço dos alimentos comprados na Grã-Bretanha nunca é consumido...
4. Urgência planetária
São números arrasadores, os números da nossa vergonha. E a aumentar esta vergonha, pulula entre nós, os da sociedade da abundância e do desperdício, gente sem vergonha empenhada em alarmismos ecológicos falando do esgotamento dos recursos naturais, da sobrepopulação do planeta, da incapacidade da Terra para alimentar a todos, da necessidade de reduzir a natalidade, da urgência em promover o aborto nos países mais pobres... A urgência é outra: um comércio mundial mais justo; maior respeito pelas nações menos desenvolvidas economicamente; verdadeira solidariedade entre as nações; e, sobretudo, um empenho claro em promover formas de governação rigorosas, respeitadoras dos povos e promotoras de verdadeiro desenvolvimento ao serviço de todos e não apenas dos poderosos.
O Criador abençoou-nos com colheitas abundantes, mercê da inteligência que nos concedeu e tantos colocam o serviço do bem comum. Falta-nos usar esta benção com sabedoria e gratidão, não permitindo a uns poucos apropriarem-se dos bens da terra, enquanto multidões nem sequer podem mitigar a fome com as migalhas desta abundância. Enquanto assim for, bem podemos esperar ouvir: "Já colheste a vossa recompensa".
Fonte: Agência Ecclesia
Adaptação: Mano Belmonte
Pensamento da Semana
"Que o Criador abençoe o trabalho dos agricultores com colheitas abundantes e torne sensíveis os povos mais ricos ao drama da fome no mundo"
(Papa Bento XVI)
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