AS JUDIARIAS DA VIDA
Recentemente, li uma entrevista que José Luís Judas deu a um jornal diário. Judas, que foi o primeiro chefe da CGTP, militante de repleta folha de serviços do PC, nos bons tempos da União Soviética, teve uma crise de azia por lhe ter caído na fraqueza o 25 de Novembro de 1975 e, antes que fosse tarde, saltou para o PS, que logo fez dele presidente da Câmara de Cascais. Também podia ter saltado para o PSD, como outros fizeram, que teria promoção garantida. Os partidos têm-se vindo a mostrar como albergues espanhóis: cabe lá tudo, porque as verdadeiras diferenças não são de monta e a desvergonha partidária passa a borracha por cima de tudo o que não lhe convém ver discutido.
Já há uns anos largos que em Cascais se diz do Judas o que o Maomé nunca disse do toucinho, por causa daquelas obras mal explicadas, mas em geral rendosas, que certos autarcas fazem com desvelo e muito descaramento. Foi até processado mas, para não variar na Justiça que temos, o processo foi arquivado. Ainda assim, na citada entrevista, Judas chora baba e ranho, considera-se injustiçado, perseguido, uma vítima. O que é muito português; : pintam a manta e depois, oh mamã dá-me colinho que estão a bater ao menino.
Ora o Judas, o Judas, para o que lhe havia de dar. E a renegar o PC, e a queixar-se do PS, quem sabe se à espera que outro partido caia na cantiga do vigéssimo premiado. Eu conheço esta peça há muitos anos, mais concretamente desde a chamada primavera marcelista, altura em que o PC se lançou ao assalto dos sindicatos. Infiltraram tudo. Sabia-se no meio que os capitães do assalto eram o Judas e o Canais Rocha, um de Torres Novas que, por ter amor ao partido e bom estômago, também colaborava com a PIDE, como a canalhada do MRPP descobriu no labirinto das fichas nos idos de 1975. Por razões óbvias, eles mostravam-se pouco, não davam a cara, manejavam tudo na sombra. Algumas vezes tive uma sensação de mal estar observando Judas a meter o nariz em tudo, a espiar tudo, mas calado e sonso.
Dissimulado.
Pouco depois do 25 de Abril de 1974, numa manhã Judas irrompeu pelo meu gabinete, acompanhado de uma ganga de camaradas do PC e do PS. Ele, com um sorriso canalha, entregou-me a carta em que, textualmente, se dizia que eu era saneada por motivos ideológicos. Ao mesmo tempo, os seus jagunços arrancavam das paredes os posters com poesias e belas gravuras, pisavam-nos a pés e rosnavam que era tudo "propaganda fascista". Fiquei a saber, naquele momento, que os comunistas da revolução consideravam fascistas o Camões, o Fernando Pessoa, e até o José Gomes Ferreira...
Ia ser muito complicado lidar com tanta ignorância e falta de inteligência. Antes de sair do gabinete, olhei o Judas nos olhos (uns olhos fugidios de rato) e disse-lhe que, se ela não me matasse naquela hora, um dia haveria de ter notícias minhas e desagradáveis. Porque a guerra estava declarada, era matar ou morrer, por ser evidente que as pessoas com os olhos abertos, que pensavam pela sua cabeça,cultas e viajadas demais para não irem na treta do paraíso soviético, eram saneadas, expelidas pelos lacaios da ditadura vermelha. Silenciar os adversários é uma obsessão, uma tara de todos os fanáticos e desonestos.
Nos dias que se seguiram, as hostes do Judas andaram a pintalgar as paredes da zona com insultos aos saneados, com difamações. Eu estava absolutamente tranquila: nunca servi a ditadura salazarista, sempre me senti contra ela, e cheguei mesmo a ser presa. Não era uma democrata do 26 de Abril, como eles. O meu processo de saneamento rolou pelos tribunais durante 26 anos!!!, graças à legislação feita por aqueles senhores que nós sustentamos no parlamento.
Legislação incompetente e estúpida. Acabei por me exilar na Canadá. Milhares de pessoas inocentes e válidas ficaram com a vida estragada, foram objecto de insultos reles por parte desta gente sem escrúpulos, sem carácter e sem educação.
De que se queixa agora o Judas? Não teve ele, durante todos estes anos, muito mais do que merece? Que quer o PC e os seus dinossauros, quando vêm prometer democracia, liberdade e boa governação? São tolos ou querem fazer de nós parvos?
=o=o=o=o=
Recentemente, li uma entrevista que José Luís Judas deu a um jornal diário. Judas, que foi o primeiro chefe da CGTP, militante de repleta folha de serviços do PC, nos bons tempos da União Soviética, teve uma crise de azia por lhe ter caído na fraqueza o 25 de Novembro de 1975 e, antes que fosse tarde, saltou para o PS, que logo fez dele presidente da Câmara de Cascais. Também podia ter saltado para o PSD, como outros fizeram, que teria promoção garantida. Os partidos têm-se vindo a mostrar como albergues espanhóis: cabe lá tudo, porque as verdadeiras diferenças não são de monta e a desvergonha partidária passa a borracha por cima de tudo o que não lhe convém ver discutido.
Já há uns anos largos que em Cascais se diz do Judas o que o Maomé nunca disse do toucinho, por causa daquelas obras mal explicadas, mas em geral rendosas, que certos autarcas fazem com desvelo e muito descaramento. Foi até processado mas, para não variar na Justiça que temos, o processo foi arquivado. Ainda assim, na citada entrevista, Judas chora baba e ranho, considera-se injustiçado, perseguido, uma vítima. O que é muito português; : pintam a manta e depois, oh mamã dá-me colinho que estão a bater ao menino.
Ora o Judas, o Judas, para o que lhe havia de dar. E a renegar o PC, e a queixar-se do PS, quem sabe se à espera que outro partido caia na cantiga do vigéssimo premiado. Eu conheço esta peça há muitos anos, mais concretamente desde a chamada primavera marcelista, altura em que o PC se lançou ao assalto dos sindicatos. Infiltraram tudo. Sabia-se no meio que os capitães do assalto eram o Judas e o Canais Rocha, um de Torres Novas que, por ter amor ao partido e bom estômago, também colaborava com a PIDE, como a canalhada do MRPP descobriu no labirinto das fichas nos idos de 1975. Por razões óbvias, eles mostravam-se pouco, não davam a cara, manejavam tudo na sombra. Algumas vezes tive uma sensação de mal estar observando Judas a meter o nariz em tudo, a espiar tudo, mas calado e sonso.
Dissimulado.
Pouco depois do 25 de Abril de 1974, numa manhã Judas irrompeu pelo meu gabinete, acompanhado de uma ganga de camaradas do PC e do PS. Ele, com um sorriso canalha, entregou-me a carta em que, textualmente, se dizia que eu era saneada por motivos ideológicos. Ao mesmo tempo, os seus jagunços arrancavam das paredes os posters com poesias e belas gravuras, pisavam-nos a pés e rosnavam que era tudo "propaganda fascista". Fiquei a saber, naquele momento, que os comunistas da revolução consideravam fascistas o Camões, o Fernando Pessoa, e até o José Gomes Ferreira...
Ia ser muito complicado lidar com tanta ignorância e falta de inteligência. Antes de sair do gabinete, olhei o Judas nos olhos (uns olhos fugidios de rato) e disse-lhe que, se ela não me matasse naquela hora, um dia haveria de ter notícias minhas e desagradáveis. Porque a guerra estava declarada, era matar ou morrer, por ser evidente que as pessoas com os olhos abertos, que pensavam pela sua cabeça,cultas e viajadas demais para não irem na treta do paraíso soviético, eram saneadas, expelidas pelos lacaios da ditadura vermelha. Silenciar os adversários é uma obsessão, uma tara de todos os fanáticos e desonestos.
Nos dias que se seguiram, as hostes do Judas andaram a pintalgar as paredes da zona com insultos aos saneados, com difamações. Eu estava absolutamente tranquila: nunca servi a ditadura salazarista, sempre me senti contra ela, e cheguei mesmo a ser presa. Não era uma democrata do 26 de Abril, como eles. O meu processo de saneamento rolou pelos tribunais durante 26 anos!!!, graças à legislação feita por aqueles senhores que nós sustentamos no parlamento.
Legislação incompetente e estúpida. Acabei por me exilar na Canadá. Milhares de pessoas inocentes e válidas ficaram com a vida estragada, foram objecto de insultos reles por parte desta gente sem escrúpulos, sem carácter e sem educação.
De que se queixa agora o Judas? Não teve ele, durante todos estes anos, muito mais do que merece? Que quer o PC e os seus dinossauros, quando vêm prometer democracia, liberdade e boa governação? São tolos ou querem fazer de nós parvos?
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