Em tempos que já lá vão, havia uma república, onde o povo, elegeu um primeiro ministro, que durante a campanha eleitoral havia prometido o "bacalhau a pataco".
Chegado ao governo, a primeira coisa que fez, e para não passar por mentiroso, foi proibir a venda do famoso bacalhau.
Depois de formar governo e ter todos os ministros sentados nos respectivos lugares, resolveu arranjar uma maneira de garantir que o nível dos políticos do país nunca seria superior ao seu.
A solução foi simples, os políticos passaram a ser tão mal pagos que, a partir daí, só se candidatavam a cargos, ou aceitavam ser nomeadas, aquelas pessoas que possuíam fortuna própria, a para quem a política era um hobby, ou aqueles que, por métodos de magia e caciquismo, ou outras habilidades conseguiam superar os seus handicaps e a sua mediocridade através da ascensão dentro do aparelho do respectivo partido.
Mas como existia o perigo de entre os primeiros, os que possuíam fortuna, poder sair algum rival à altura, resolveu extrerminá-los subindo de tal forma os impostos que a breve prazo tinha até desaparecido a classe média.
Fazendo lembrar a personagem histórica de Heródes.
Os segundos eram gente obediente, eram pessoas, que concordavam com todas as ideias e argumentos do chefe, que bebiam as palavras do chefe, que lutavam pelo chefe e que sabiam que tarde ou cedo seriam compensados pela sua fidelidade com uma nomeaçãozita.
Era vê-los!
Vestidos de fato cinzento, cabelo carregado de gel. Alguns não disfarçavam a sua origem.
Os mais atrevidos mantinham o brinco e a ameaça de rabo de cavalo, colocando em alternativa ou a cara de mau ou a de pessoa importante e ocupada. Na mão um computador de bolso, cuja função principal é guardar os downloads de fotos de umas raparigas que gostariam de conhecer ao vivo, ou gravar os jogos com os quais passavam o tempo em que se tinham que apresentar no Job.
Os menos atrevidos tentavam disfarçar o furo onde antes tinha permanecido um pendente de pechisbeque com brilhante de plástico a imitar diamante.
Mantendo o mesmo ar importante que os primeiros não conseguem disfarçar que o 12.o ano tinha sido um dia um objectivo, mas que nunca passou disso mesmo.
O que lhes veleu foi o cartão do partido da moda, em que se tinham inscrito ainda jovens na sequência de uma sardinhada numa tarde de verão.
Vendo a sua capacidade de trabalho e organização, o então cacique de serviço tinha-os convidado para preencher a ficha de militante.
A partir daí, foi só pisão e pontapé nas canelas dos parceiros e um vê se te avias para trepar. Era preciso chegar primeiro.
Assim se criaram os novos Boys para os novos Jobs.
Mas o chefe ainda tinha um problema!
E esse era grave
É que no reino havia ainda bastante gente que se dedicava ao terrível vício de pensar.
E o pior, é que escrevia o que pensava.
Tinha que haver uma solução! Eis senão quando, o grande Chefe, depois de pensar, encontrou saída para o seu tormento.
Assim, e aplicando um princípio idêntico ao que havia feito com os políticos, recriou a censura.
Mas como não tinha dinheiro para pagar o serviço, resolveu pôr os potenciais censurados a pagar ao censor.
É que nem o "Botas" se tinha lembrado desta!
Na tal república passou a vigorar a lei do lápis azul, então substituído por sofisticados meios de escuta e leitura, em que por cada pensamento desalinhado passou a ser aplicada uma multa velente.
O lema era simples - Evita pensar; se pensares não digas; se disseres não escrevas!
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Carlos Oliveira
JRL/Sesimbra
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