TRIGO E JOIO
No jornalismo podemos encontrar profissionais pouco inteligentes, confrangedoramente incultos, irresponsáveis, mal educados, oportunistas, corruptos, vendidos e até perigosos. É um facto.
Mas também é um facto que podemos encontrar profissionais com as mesmas características na política, na administração pública, na gestão de empresas privadas, nos sindicatos, nas ordens, nas fundações, na banca, na indústria, nas autarquias, nas profissões liberais, no ensino, na cultura, na ciência, nas artes, nas letras, nas direcções desportivas, nas forças armadas.
Por ser assim, e todos sabemos que é assim, parece-me excessivo, e até um bocado ridículo, que certas personalidades, ao verem punidos os seus actos pela realidade dura da vida, tendam em geral a apontar o dedo acusador aos jornalistas, todos eles, e não ao jornalista fulano e cicrano, deixando no ar a ideia de que o jornalismo é uma classe abaixo de toda a credibilidade e respeito. Fazem-me sempre lembrar aquele santo de Alcobaça que aponta o da imagem em frente, por ter uma poeira num olho, tendo ele mesmo um argueiro a toldar-lhe a visão.
Apesar de todos os pesares, e lamentando-se desde já que a classe não tenha a sensatez e a coragem de separa águas dentro de si mesma, muitos jornalistas têm prestados serviços inestimáveis ao país pelo simples facto de terem dito ou escrito a verdade sem medo nem preconceito, olhos postos no dever de servir o povo. Se passarmos em revisão os 35 anos que leva este regime, encontraremos inúmeros exemplos do que afirmo. Muitos abusos, e até crimes, foram evitados porque a imprensa alertou. É pena que a Justiça não tenha correspondido com intervenção atempada e certeira, tendo muitas vezes sido mais célere e severa a julgar jornalistas de quem de queixaram as boas almas que se entendem acima da lei. Mas atrás de tempo, tempo vem, pode ser que no futuro as coisas melhorem.
Entretanto, não faleça o ânimo aos que honram os ideias do jornalismo para que Portugal seja o país saudável que todos desejamos.
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