FINAL
...Ele diz que ajudava as pessoas a parirem suas próprias ideias. Diz que Atenas era uma égua preguiçosa, e ele um pequeno mosquito que lhe mordia os flancos para provar que estava viva. Achava que a principal tarefa da existência humana era aperfeiçoar seu espírito. Acreditava ouvir uma voz interior, de natureza divina (um daimon), que lhe contava a verdade, e para ele só existia um deus. Era capaz de ficar horas imerso em si mesmo, em profundos momentos de reflexão. Não foi por acaso que a Pitía, do oráculo de Delfos, o proclamou como o homem mais sábio de Atenas quando o amigo de juventude de Sócrates, Querefonte, foi interrogá-la. Sócrates foi convidado para o Senado dos quinhentos, e manifestou sua convicção de liberdade combatendo as medidas que considerava injustas. A democracia estava a implantar-se em Atenas, e Sócrates respondia qual era o melhor Estado, como poderia salvá-lo. Os homens mais sábios deviam governá-lo, pois eles podem controlar melhor seus impulsos violentos e anti-sociais. Assim, nos afastaríamos do comportamento de um animal.
O Estado não confiava na habilidade e reverenciava mais o número do que o conhecimento.
Portanto, Sócrates era aristocrático, pois há inteligência que baste para se resolver os assuntos do Estado.
A reação do partido democrático de Atenas não poderia ser outra. Num juri de cinquenta pessoas, foi acusado, condenado por negas aos deuses do Estado e por
"perverter a juventude de Atenas".
Muitos jovens seguiam Sócrates, e tornavam-se seus discípulos. Anito, um líder democrático tinha um filho discípulo de Sócrates, que ria dos deuses do Pai, voltava-se contra eles. Sócrates foi considerado, aos setenta anos, líder espiritual do partido revoltoso. Foi condenado à morte, e devia tomar cicuta (um veneno). Podia ter fugido da prisão, ou pedido clemência, ou ter saído de Atenas, mas não quis. Assim, tornou-se o primeiro mártir da filosofia. Não deixou nenhuma obra escrita. Sua morte é nos contada por Platão, que foi um dos seus discípulos, e aqui fica em resumo:
"(...) Ele levantou-se e dirigiu-se aos lavabos com Críton, que nos pediu que esperássemos, e esperamos, conversando e pensando (...) na grandeza da nossa dor. Ele era como um pai do qual estávamos sendo privados, e estamos prestes a passar o resto da vida orfãos.
(...) A hora do pôr-do-sol estava próxima, pois ele tinha passado um longo tempo nos lavabos. (...) Pouco depois o carcereiro entrou e se postou perto dele dizendo:
-A ti, Sócrates, que reconheço ser o mais nobre, o mais delicado e o melhor de todos os que já vieram para cá, não irei atribuir sentimentos de raiva de outros homens.
(...) de facto, estou certo de que não ficarás zangado comigo, porque como sabes, são os outros, e não eu o culpado disso. E assim, eu te saúdo, e peço que suportes sem amargura aquilo que precisa ser feito, sabes qual é a minha missão - e caindo em prantos, voltou-se e retirou-se.
Sócrates olhou para ele e disse: - Retribuo ta saudação, e farei como pedes. - E então, voltando-se para nós disse:- Como é fascinante esse homem; desde que fui preso, ele tem vindo sempre me ver, e agora vede a generosidade com que lamenta a minha sorte. Mas devemos fazer o que ele diz: Críton , que tragam a taça, se o veneno estiver preparado.
(...) Críton, ao ouvir isso fez um sinal para o criado, o criado foi até lá dentro, onde se demorou algum tempo; depois voltou com o carcereiro trazendo a taça de veneno. Sócrates disse:
- Tu, meu bom amigo, que tem experiências nesses assuntos, irá dizer-me como devo fazer.
O homem respondeu:
-Basta caminhar de um lado para o outro, até que as tuas pernas fiquem pesadas, depois deita-te e o veneno agirá. - Ao mesmo tempo estendeu a taça a Sócrates, (...) que segurou-a.
(...) E então levando a taça aos lábios, bebeu rápida e decididamente o veneno.
Até aquele instante a maioria de nós conseguiria segurar a dor; mas agora, vendo-o beber e vendo, também que ele tomara toda a bebida, não pudemos mais nos conter; apesar dos meus esforços, lágrimas corriam aos borbotões.
(...) Apolodoro, que estivera soluçando o tempo todo, irrompeu num choro alto que transformou-nos a todos em covardes.
(...) E então, o próprio Sócrates apalpou as pernas e disse:
-Quando chegar ao coração, será o fim.
(...) e disse aquelas que seriam as sua últimas palavras: - Críton, eu devo um galo a Esculápio, vais lembrar de pagar a dívida?
-A dívida será paga - disse Críton.
(Foi esse o fim de nosso amigo, a quem posso chamar sinceramente de o mais sábio, mais justo e melhor de todos que conheci."
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Pesquisa e adaptação: Mano Belmonte
manoamano@sympatico.ca
http:manobelmontecantor.blogspot.com
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