CRÓNICA DO CANADÁ
SER HUMANO
Há muito que não viamos uma cena como aquela. Logo pela manhã, chegamos a uma pequena cidade na província do Ontário e faz parte da região metropolitana da mega cidade de Toronto.
Paramos em frente ao local do nosso destino e ficamos a aguardar a pessoa com quem haviamos marcado compromisso. Era a hora em que as pessoas se dirigiam para o trabalho, e foi aí que me dei conta de algo que há muito não via. As pessoas que transitavam, a pé, pela rua, dirigiam-nos um fraterno "good morning"(bom dia).
Ao primeiro cumprimento não respondemos, tal a surpresa, pois as grandes cidades tiram-nos a sensibilidade de seres humanos.
Geralmente andamos pelas ruas abarrotadas de pessoas, mas umas não olham para as outras, e quando o fazem é para tomar os devidos cuidados vários...
E isso não acontece só nas ruas, onde o número de pedestres é grande.
Quando entramos num elevador ficamos sem jeito, sem palavras, e geralmente olhamos para o teto ou para o chão, com receio de olhar no rosto daquelas pessoas que dividem connosco aquele pequeno espaço.
O que está a acontecer connosco?
Será que estamos a perder a humanidade para nos tornarmos autómatos?
Será que estamos perdendo a sensibilidade de olhar, sem medo, nos olhos do nosso semelhante e saudá-lo?
Será que não temos mais a capacidade de desejar um sincero bom dia a alguém?
O que está acontecendo connosco, afinal?
Ás vezes, quando andamos pelas ruas dos grandes centros, notamos que as pessoas circulam apressadas, alheias a tudo, como naqueles filmes de ficção, em que as pessoas foram substituidas por robôs.
Programados para tarefas específicas, esses robôs não têm a sensibilidade dos seres humanos...Não têm coração, têm chips, computadores eficientes, mas não têm calor humano. São frios.
A sensibilidade é atributo dos seres humanos. A fraternidade, a solidariedade, o afecto, a ternura, são inerentes à criatura humana.
Quando naquela manhã, pessoas que nunca havíamos visto antes olharam-nos e desejaram-nos um sonoro e convicto bom dia, sentimo-nos gente.
Ser gente! Eis do que sentimos falta.
Talvez isso pareça medíocre, para alguns, mas é bom sentir-se gente.
Receber de um desconhecido um olhar de afecto, um olhar de encorajamento, faz bem à alma.
É bom saber que as pessoas notam em nós, não como supostos bandidos, mas como gente, apenas como gente.
Há tanta falta de atenção de uns para com os outros, nestes tempos de correria em busca de dinheiro e coisas, que nos esquecemos de que somos todos passageiros desta grande embarcação chamada Terra.
Por isso tudo, é bom, sentirmo-nos gente entre pessoas que, como nós mesmos, lutam, sofrem, trabalham e choram...
Pessoas que amam, que sonham, que buscam um lugar ao sol, e que desejam ser, simplesmente...GENTE!
Saudemos as pessoas que cruzam o nosso caminho. Se o nosso dia amanheceu nublado, e não estamos com vontade de saudar alguém, olhemos para as pessoas com fraternidade. Faça-as sentirem-se gente. Gente como nós.
Pensamento da Semana
"Não devemos nos limitar a dar educação às nossas crianças, devemos ensiná-las a ser pessoas"
(Herbert Spencer)
Mano Belmonte
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