NÓS ...OS ASILADOS POLÍTICOS DE HOJE!
Após o 25 de Abril, seguido da independência das nossas províncias ultramarinas, milhares de Portugueses, Lusos Angolanos e Africanos, deixaram suas Terras, casas e bens, acossados por atrocidades selvagens, muitos dos quais barbaramente assassinados. Chegam a Lisboa, carregados de miséria transida de ódio pelos descolonizadores que a expuseram aos atrozes efeitos da sua pressa demagógica em limpar a nódoa do chamado "colonialismo". Velhos, Mulheres e crianças amontoados como mercadoria, vaiados por gente sem escrúpulos, irmãos contra irmãos, são vistos de soslaio no aeroporto, desembarcando blasfémias contra o MFA, em cujo esquerdismo vêm o demónio que lhes traçou a desgraça. O pânico da impossibilidade imediata de os brancos abandonarem Angola com os seus parcos haveres, retratou um dos projectos mais loucos e sem vergonha, que a revolução de Abril (1974) realizou, análoga à fuga dos judeus do Egipto e do êxodo dos bóeres, registado como um dos acontecimentos mais espectaculares e dramáticos da História.
Cada um de nós, até o mais humilde e insignificante, foi abalado no mais íntimo da sua existência pelos vendavais e terramotos que, quase sem interrupção, têm assolado o nosso continente europeu...mas que nem por isso se lamentaram. O indvíduo que não tem pátria liberta-se num sentido novo, e só aquele que já nada tem a perder pode agir livremente. Esperam, assim, poder satisfazer, pelo menos, essa condição essencial a que deve obedecer toda a verdadeira descrição de uma época: sinceridade.
Nasci em Luanda, onde cresci, debaixo de uma só e única bandeira, a de...PORTUGAL. Essa cidade Luso Africana e cosmopolita, onde fui obrigado a abandoná-la como um criminoso, antes de a condenarem à degradação, fazendo dela uma simples cidade esburacada, atafulhada de orfãos e deficientes, retalhada e explorada, onde a mendicidade, hoje, representa o ex-líbris daquela África distante. Actualmente, não sou pois de nenhuma terra: sou, onde quer que me encontre, um estrangeiro, e, no melhor dos casos, serei um hóspede; até a minha pátria propriamente dita, a eleita do meu coração, até essa eu perdi, a partir do momento em que ela, pela segunda vez, se despedaçou numa guerra fraticida, que equivale ao seu suicídio.
Fui sem o querer, testemunha dessa horrível barbaridade, ornamentada de injustiças, racismo e do triunfo mais selvagem da brutalidade de que rezam as crónicas, relatos noticiosos e contos literários de todos os tempos; nunca, e não registo isso de modo algum com orgulho, mas antes com vergonha. Nunca uma geração sofreu uma tal queda moral de tão elevada altura como a nossa, Operaram-se transformações e mudanças mais radicais do que de ordinário em dez gerações; e todos nós sentimos que elas foram quase em demasia. É tão diferente o meu hoje de qualquer dos vividos ontens, tais foram as minhas subidas e as minhas quedas, que muitas vezes me parece ter vivido não só uma, mas várias vidas, e todas elas diferentes umas das outras.
Hoje, Portugal vive retalhado, sozinho, agarrado à crise, enclausurado e submisso à União Europeia. Pelo meio, a exaustão física e psicológica, os incidentes dos percursos, o desgate laboral, as situações deprimentes, os atrasos, o regresso à "pedinchice". No lar, que deixou de o ser para se conformar em albergaria de semi estranhos que se toleram pela necessidade da economia comum, onde a vivência familiar se perdeu, pais e filhos distanciam-se, avós e netos ignoram-se, obliterou-se o sentido da entreajuda e de carinho que eram o cimento da antiga coesão familiar.
FALIU A PÁTRIA! FALIU A FAMÍLIA!
Cruz dos Santos
Coimbra/Portugal
-o-o-o-o-o-o-o-
Sem comentários:
Enviar um comentário