REFLETINDO
Onde está o essencial?
A senhora entrou no consultório do psicoterapeuta e sentou-se. Antes de começar a falar, já chorava.
Quando finalmente conseguiu parar de soluçar, disse: "Estou sozinha. Meu marido largou-me há dois meses.
Viajei, pensando que esqueceria, mas não consigo esquecer."
Ele é um ingrato. Afinal, eu dei-lhe os melhores anos da minha vida. Eu dei-lhe filhos lindos. Eles sempre estavam prontos, bem vestidos e penteados, com as mochilas às costas, na hora de ir para a escola.
Sempre tive a refeição pronta quando ele chegava, não importando a hora. Sempre recebi os amigos dele. Sempre fui a todos os lugares com ele, mesmo que não gostasse. Sempre sorri, para que todos soubessem que ele tinha uma esposa feliz.
Dei-lhe uma casa maravilhosa. Nunca permiti que existisse pó sobre os móveis.
Sempre tive o máximo de cuidado com os lençóis para que estivessem brancos, bem passados, perfumados.
E agora isto!... Ele conheceu uma rapariga no escritório, apaixonou-se por ela e deixou-me.
O psicoterapeuta olhou para ela e perguntou-lhe: "e o que a senhora deu de você para ele?"
Ela não entendeu. Sim, durante anos ela era a perfeita dona de casa, criou dos filhos dele... Mas nunca se lembrara de que era a esposa, a companheira, a amiga.
Naturalmente, ter a casa arrumada, lençóis limpos, crianças alinhadas e prontas é importante. Mas não é tudo. Mesmo porque, algumas dessas tarefas podem ser delegadas a terceiros.
Uma refeição pode ser conseguida num restaurante, roupas limpas na lavandaria, a casa pode ser limpa pela empregada a dias.
Mas o carinho de uma esposa não se compra, como a esposa aguarda o do marido.
Mais importante do que a casa sem pó, é um sorriso e um abraço de ternura quando os dois se encontram.
Mais importante do que o tapete exatamente no lugar e todos os enfeites bem dispostos sobre os móveis, é uma mão que aperta a outra com força.
É a companhia agradável de quem se senta ao lado, olha nos olhos e descobre que o outro teve um dia terrível.
Um confia ao outro as suas dificuldades e suas ansiedades, encontrando aconchego mútuo.
Amar é dar-se, é confiar. Olhar juntos para os filhos que crescem e vão se tornando independentes.
Lembremo-nos que o mais importante são as pessoas. De que adianta a casa, o carro, as jóias se não houver pessoas para partilharem connosco?
Entre as pessoas existem aquelas que dependem do nosso afeto.Por isso, não nos cansemos de amar.
Olhemos para as pessoas. Prestemos atenção às suas palavras, gestos, olhares, sentimentos. Em especial aquelas que compartilham connosco o mesmo teto, pois são as que mais necessitam do nosso amor.
Pensamento da Semana
"A cólera prejudica o sossego da vida e a saúde do corpo, ofusca o julgamento e cega a razão".
(Denis Diderot)
Mano Belmonte
manobelmonte@live.com.pt
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