UM PAÍS QUE ARDE
Todos os anos, assistimos ao mesmo ciclo de imagens do inferno, um desastre que não nos larga em cada verão.
São imagens espectaculares mas de horror. De sofrimento.
De aflição incontida perante a perda de bens e ganhos de uma vida.
Somos confrontados com a dilaceração de campos, florestas, matas, e com populações em perigo. É certo que os países mediterrânicos estão sujeitos a este destino. Quando o Verão começa a aquecer, todos os níveis de risco de incêndio aumentam e daí ao confronto com os flagelos do fogo é um passo.
O abandono dos campos, a diminuição dos 'vigilantes' que viviam a terra e da terra, pastores, almocreves, trabalhadores rurais, fez com que muitas vezes só exista alerta para o fogo demasiado tarde. Mas não se pode ignorar outra evidência: grande parte dos fogos são de origem criminosa. Estão aí, à solta, dezenas de pirómanos.
Muitos deles identificados, que já estiveram presos e continuam fixados nas suas manias quando regressam à liberdade sem qualquer restrição ou controlo. Era importante que não fosse assim. Que, sem violar nenhum princípio constitucional, apenas com medidas administrativas, deveria acontecer um controlo maior sobre os pirómanos conhecidos e consolidar políticas de prevenção sobre os grupos de risco e que por impulso lascivo lançam fogo apenas por puro prazer patológico. Conhecem-se dezenas de casos, e a PJ tem um espólio grande de gente desta que foi presa e solta, investigada mas não se conseguiu prova, que saiu em liberdade, outros em liberdade condicional (alguns em vésperas do Verão) que por aí andam satisfeitos enquanto incendeiam o País.
É claro que não é esta a única causa que explica os incêndios nestes dias de brasa. Era interessante saber como o Estado cuida das suas matas, florestas e parques, no que respeita à prevenção, para ter legitimidade para censurar os privados que não têm cautelas. Era interessante saber quais os investimentos na floresta e preservação, o qu significaria, antes de mais, uma política agrícola que fixasse populações e produzisse riqueza. Também seria estimulante admitir que essa política agrícola e florestal era o grande e decisivo passo para sairmos do inferno da crise onde estamos enfiados.
Mas aqui, neste inferno, os incendiários são outros e, tal como os pirómanos, a cadeia continua pacientemente a esperar por eles.
Por Francisco Moita Flores ( Professor Universitário)
Adaptação : Mano Belmonte
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