#fado?: Ser português é ser único. Inventamos o fado, a saudade e lixamo-nos. Nunca teremos a felicidade plena. Carregamos a sina de acordar entre a alegria e a dor. São dias muito difíceis os que vivemos. Cheiram a morte, a incerteza, a mãos cheias de nada, a olhos vazios de esperança. Tiraram--nos a alegria por estes dias. Procuramos culpados e sentimo-nos culpados. Uma tragédia assim nunca nos tinha batido à porta nos tempos mais recentes. Choramos e temos a tentação de abanar os ombros nesse jeito de frase feita. 'É a vida...' Podemos não dizer isto, mas pensamos sempre nisto. Pois, Manuel Molinos, camarada de jornadas, tens razão. Há sempre uma espécie de machado que corta alturas felizes. Os nossos rostos felizes no Euro, na vinda do Papa, na Eurovisão estão, agora, fechados. Nem o facto de sairmos do défice excessivo nos dá alento. Nem saber que o ministro Centeno é o Cristiano Ronaldo nas contas. Já não queremos amar pelos dois. Queremos ser amados. No meio da má-língua que nos caracteriza, nos desabafos que herdamos do escárnio e do maldizer somos assim. Uns dias nas nuvens da alegria, noutros no poço do infortúnio. Tudo isto é triste, tudo isto existe, tudo isto é fado.
Margarida Fonseca/JN
Margarida Fonseca/JN
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