OLHAR EM FRENTE
Alguns comentadores políticos disseram da visita oficial do presidente José Eduardo Santos a Lisboa que Portugal se pôs "de cócoras" diante de Angola e que o novo país se propunha colonizar Portugal através de massivos investimentos. Quanto a mim, é uma reação que vai beber (ainda) a um preconceito de suposta superioridade.
Nenhum angolano, e eu sou angolana e sei do que falo, nenhum português, e eu tenho a nacionalidade portuguesa e sei do que falo, vai esquecer o tormento de uma guerra colonial, que atrasou e comprometeu a evolução de Angola e de Portugal para um regime democrático, antes abriu a porta a uma revolução militar, em Portugal, e uma guerra civil em Angola, ficando pelo meio uma "descolonização exemplar", como lhe chamou o medíocre político que a engendrou, ao tempo com o beneplácito do Partido Comunista, velho compagnon de route com quem assinou um tratado em Paris. Só depois do mal feito é que o Partido Socialista cortou o cordão umbical, graças á coragem de Salgado Zenha, tendo por pretexto o mundo dos sindicatos.
Nenhum angolano ou português vai esquecer os mortos dessas guerras, os exilados, os presos, os injustiçados, as dezenas de milhar de portugueses que atravessaram as fronteiras a salto para não irem à guerra, as centenas de milhar de negros e brancos a fugirem da guerra civil que se seguiu à independência. Nenhum angolano ou português vai esquecer quanta incompetência, egoísmo, vaidade, arrogância, corrupção e ganância, dum lado e do outro, travaram o progresso de Angola e de Portugal porque mais se olhou ao jogo proporcionado por interesses estranhos do que às necessidades dos seus povos.
Ninguém tem as mãos limpas e a consciência leve nesta tragédia.
Não, ninguém esquecerá, porque ninguém quer ver estes crimes repetidos. Mas ninguém saudável de inteligência e de espírito vive do passado. A hora, para Portugal e Angola, é de olhar em frente, é de se comportarem como dois adultos, como gente de bem e de juízo, dando-se as mãos na reconstrução de Angola, que se quer país livre e de riqueza bem repartida, e a regeneração do regime vigente em Portugal, que se quer país bem administrado e livre das vergonhas que tem vindo a sofrer.
Portugal, que abandonou Angola (e as outras colónias todas) à sua sorte, por funesta decisão de políticos a soldo de interesses internacionais, deve tomar como exemplo a Igreja Católica, essa que, apesar de todas as perseguições e martírios, ficou no terreno, a pé firme, lado a lado com as populações sofredoras. Portugal tem de retomar as suas responsabilidades de solidariedade, não de colonizador para a colonizado, não de patrão para mainato, como parecem sugerir os comentadores apontados, mas como melhor amigo do povo angolano. É obrigação, e interesse, de Portugal dar uma contribuição, forte e decisiva, para uma Angola forte, grande, justa. Prouvera a Deus que o pudesse fazer em todos os lugares que abandonou de forma irresponsável.
A hora é de acção, em ambos os países, e não de chicana partidária.
Fernanda Leitão
Toronto/Canadá
Alguns comentadores políticos disseram da visita oficial do presidente José Eduardo Santos a Lisboa que Portugal se pôs "de cócoras" diante de Angola e que o novo país se propunha colonizar Portugal através de massivos investimentos. Quanto a mim, é uma reação que vai beber (ainda) a um preconceito de suposta superioridade.
Nenhum angolano, e eu sou angolana e sei do que falo, nenhum português, e eu tenho a nacionalidade portuguesa e sei do que falo, vai esquecer o tormento de uma guerra colonial, que atrasou e comprometeu a evolução de Angola e de Portugal para um regime democrático, antes abriu a porta a uma revolução militar, em Portugal, e uma guerra civil em Angola, ficando pelo meio uma "descolonização exemplar", como lhe chamou o medíocre político que a engendrou, ao tempo com o beneplácito do Partido Comunista, velho compagnon de route com quem assinou um tratado em Paris. Só depois do mal feito é que o Partido Socialista cortou o cordão umbical, graças á coragem de Salgado Zenha, tendo por pretexto o mundo dos sindicatos.
Nenhum angolano ou português vai esquecer os mortos dessas guerras, os exilados, os presos, os injustiçados, as dezenas de milhar de portugueses que atravessaram as fronteiras a salto para não irem à guerra, as centenas de milhar de negros e brancos a fugirem da guerra civil que se seguiu à independência. Nenhum angolano ou português vai esquecer quanta incompetência, egoísmo, vaidade, arrogância, corrupção e ganância, dum lado e do outro, travaram o progresso de Angola e de Portugal porque mais se olhou ao jogo proporcionado por interesses estranhos do que às necessidades dos seus povos.
Ninguém tem as mãos limpas e a consciência leve nesta tragédia.
Não, ninguém esquecerá, porque ninguém quer ver estes crimes repetidos. Mas ninguém saudável de inteligência e de espírito vive do passado. A hora, para Portugal e Angola, é de olhar em frente, é de se comportarem como dois adultos, como gente de bem e de juízo, dando-se as mãos na reconstrução de Angola, que se quer país livre e de riqueza bem repartida, e a regeneração do regime vigente em Portugal, que se quer país bem administrado e livre das vergonhas que tem vindo a sofrer.
Portugal, que abandonou Angola (e as outras colónias todas) à sua sorte, por funesta decisão de políticos a soldo de interesses internacionais, deve tomar como exemplo a Igreja Católica, essa que, apesar de todas as perseguições e martírios, ficou no terreno, a pé firme, lado a lado com as populações sofredoras. Portugal tem de retomar as suas responsabilidades de solidariedade, não de colonizador para a colonizado, não de patrão para mainato, como parecem sugerir os comentadores apontados, mas como melhor amigo do povo angolano. É obrigação, e interesse, de Portugal dar uma contribuição, forte e decisiva, para uma Angola forte, grande, justa. Prouvera a Deus que o pudesse fazer em todos os lugares que abandonou de forma irresponsável.
A hora é de acção, em ambos os países, e não de chicana partidária.
Fernanda Leitão
Toronto/Canadá
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