Palavras com substância orgânicas!
Ao vislumbrar aquele campo coberto de relva, e terra húmida, descalcei-me e passei por cima daquele campo verde, exuberante de vegetação. Os pés descalços pareciam sentir sempre de forma diferente a paixão de algo que os prendia e não arrebatava para coisa nenhuma. Que sensação de frescura e de bem estar! Para quê o céu, as nuvens e a distância de tão longe se ali, de pés abraçados à Terra-Mãe, eu aprendia mais que com os longínquos infinitos do Universo?
Terra, pés e alma geravam as palavras de seiva, silenciosas e discretas numa íntima oração, fazendo-a reencontrar-se com os distantes mistérios da criação. Nesse conversar lento e mudo, erguia-se como rainha a simplicidade do nascer e crescer das plantas e dos seres. Simplicidade como quem escreve e fala e sente os pés molhados por cima da relva e da terra fresca de uma tarde de fim de verão. Vale a pena sentir a vida, o calor, sentir a terra e a água, os pés a falar com essas substâncias orgânicas, que corre no mundo e faz crescer as plantas e os seres. Ser aqui e ali sempre o mesmo e nada ao mesmo tempo, ser de vir e unidade, parar e andar, descer e subir. Sentir a verdade na seiva que corre nos pés que pisam e abraçam, na água que mata a sede de viver.
Vale a pena ser e não ser nesse espanto primordial de nos sentirmos crescer e acontecer como o espaço, o tempo, as palavras e os seres. Falas, falo e nos descobrimos como seres estranhos a pisar a relva húmida e a ouvir a respiração do mundo.
Que mistérios envolvem tudo isso! A nossa lucidez, o espanto de sermos nós e toda esta loucura de crescermos, sem sabermos quem somos. Crescer, crescer...é esse confrontar, é esse dividir o mundo com alguém, é esse passear descuidado pelos desígnios da fala, pelas voragens do amor.
Crescer é não possuir mas ser capaz de fruir e de simplesmente estar. Crescer é nascer no ser de ser para ti o outro que tu és para mim.
Cruz dos Santos
Coimbra/Portugal
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