Raízes profundas
É bastante comum ouvir-se pessoas maduras afirmarem que sofreram muito na sua infância ou na sua adolescência e que, de maneira alguma, desejam o mesmo para os seus filhos.
Recordam terem iniciado a trabalhar muito cedo para auxiliar nas despesas do lar, dos desejos que jamais foram concretizados, como a bola de futebol, a bicleta nova, a viagem de recreio da escola e quantos mais...
Lembram de certas privações, de não terem tido privacidade, porque necessitavam dividir o quarto com os irmãos, pela falta de espaço na casa dos pais.
Recordam e recordam com certa amargura, o que lhes constituiu dificuldades e reafirmam que tudo farão para que seus filhos não tenham que experimentar nada daquilo.
Por isso mesmo, os meninos e meninas crescem sem maiores problemas.
Vão à escola, levam dinheiro para o lanche, nem sempre saudável, viajam nas férias, brincam e folgam.
Nada lhes falta, para que não sofram, para que não se frustem, para que não tenham decepções.
Nada em esforço lhes é exigido.
Nada que desejem deixam de receber.
Vendo tantos pais procederem assim, recordamo-nos de um médico canadiano que, além de curar os seus doentes, tinha por objectivo transformar o terreno da sua casa numa floresta.
Vivia a plantar árvores!
Bastava retornar do hospital onde trabalhava, para enfiar um fato macaco, um chapéu de palha na cabeça e luvas e lá saía para o terreno...
O estranho não era o passatempo do médico mas a forma como ele tratava as árvores novas. Ele não as regava !
Dizia que regar as plantas fazia com que crescessem com raízes superficiais.
As árvores que não eram regadas, dizia, necessitavam criar raízes profundas para procurar humidade. Isto concedia-lhes maior firmeza.
Falava com as árvores e as motivava a crescerem fortes, a fim de enfrentarem os ventos frios, a neve, as tempestades...
E as árvores tornavam-se rijas, parecendo dizer que as adversidades e as privações as tinham beneficiado.
Nossos filhos, como as árvores do bom médico, talvez encontrem adversidades na vida.
Talvez tenham que percorrer caminhos difíceis, enfrentar ventos frios de solidão, de desesperança.
Eles também necessitam criar raízes profundas, de modo que não sejam abatidos quando a chuva, a neve caírem e os ventos soprarem fortes, tentando derrubá-los.
Aprendamos a dizer não, uma vez por outra, a fim de que os nossos filhos aprendam que nem tudo lhes estará sempre disponível.
Em síntese, ensinemos nossos filhos a andar sozinhos, a enfrentar problemas, a lutar pelo que desejam, para que enrijeçam o carácter e cresçam fortes como o cedro e sejam firmes como a rocha.
Pensemos nos tempos difíceis do mundo e preparemos nossos filhos para que os enfrentem com vigor.
Pensamento da Semana
"Não devemos nos limitar a dar educação às nossas crianças, devemos ensiná-las a ser pessoas". (Herbert Spencer)
Mano Belmonte
http://manobelmontecantor.blogspot.com
manoamano@sympatico.ca
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